27 de mar. de 2013

Absurdo: Operação da Polícia Federal em terra indígena Munduruku

 
A Operação Tapajós tem o objetivo de garantir a realização de estudos de impacto da construção de usina; para Ministério Público Federal há risco de conflito.

1. Governo Federal mandou 250 homens da Força Nacional, PF e Exército para Itaituba (Pará) dizendo que era para combater o desmatamento;
2. Mas estes homens estão se dirigindo neste momento para a Terra Indígena Munduruku para garantir estudos de hidrelétricas que índios se opõe;
3. Na região o governo Dilma pretende construir 5 grandes hidrelétricas e não há nenhum registro de desmatamento nos últimos 12 meses
4. Diferente do envio de tropas para o Mato Grosso e para Belo Monte, o governo não fez publicar qualquer portaria sobre a ação no Diário Oficial da União.
5. Na mesma região, um cacique foi recentemente morto em Operação da Polícia Federal;
6. Quando estiveram em Brasília pedindo providências para apuração do crime e para dizer que eram contra as hidrelétricas, os mundurukus ouviram da Presidente da Funai que "A Funai é governo";
7. Os indígenas avisaram ao governo que não aceitam as hidrelétricas em suas terras;
8. O MPF pediu à Justiça Federal a suspensão da ação de entrada das tropas na Terra Indígena.

15 de mar. de 2013

A luta pela terra e por recursos naturais no oeste do Pará


 

Histórias de garimpo em Altamira

Em consonância com o nome, Vila da Ressaca é o que sobrou dos tempos em que havia ouro abundante no local. Essa comunidade de garimpeiros fica na chamada Volta Grande do rio Xingu, uma grande curva em formato de ‘U’ que começa logo abaixo de Altamira. Esse trecho do rio está condenado pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina. As comunidades ribeirinhas que vivem à sua margem, deixarão de sê-lo: não serão mais banhadas pelas águas do Xingu.

A construção de Belo Monte fez Altamira borbulhar de crescimento. Da construção civil ao transporte aquático, o preço de tudo subiu. A passagem de uma voadeira da cidade até Vila da Ressaca triplicou, de R$15 para até R$50. Chegar lá toma uma viagem de 2 horas rio abaixo.

Uma curiosidade sobre a Ressaca: ela fica dentro do município de Senador José Porfírio, porém a cidade de Altamira está entre metade e um terço da distância da Vila até a sede de Senador Porfírio. Estamos no Pará, em plena Amazônia, onde municípios podem ter a área de países.

Nos áureos tempos, a Ressaca chegou a abrigar 6 mil habitantes. Hoje, o número caiu para cerca de 200 famílias, que somam algo como 800 pessoas. Metade se dedica à extração de ouro, dividido em 6 garimpos: do Galo, Itatá, Morro dos Araras, Grota Seca, Ouro Verde e Curimã.

Ao contrário do Galo, onde os túneis atingem 380 metros de profundidade, no garimpo Morro das Araras, a exploração é rasa, feita em buracos de até 10 metros de profundida por 20 de largura. O nome vem dos índios que ali habitaram até 1930, quando foram expulsos pela chegada da mineração. Eles lutaram, matando e afundando os barcos dos recém-chegados, que também morriam de malária. O pico da produção de ouro na região foi na década de 1960 e 70, quando a exploração era feita por empresas do ramo. Elas foram embora quando acabou o ouro fácil, próximo da superfície. Hoje, a exploração é rude, feita por garimpeiros precariamente equipados.

No morro das Araras, a rotina da busca do ouro é desmatar e cavar buracos com água de mangueiras de alta pressão. Um buraco é aberto a cada 2 dias. A medida que é liquifeita, a terra é retirada por uma máquina apelidada de "chupadeira", que a joga em uma rampa. A lama desce pela rampa de madeira de alguns metros de comprimento até o seu fim, quando é filtrada por uma caixa que contém uma peneira e mercúrio. A peneira segura os resíduos que podem conter ouro, o mercúrio aglutina o metal. O líquido enlameado que passa, já contaminado por mercúrio, enche um outro buraco. Uma vez exploradas, as crateras são abandonadas.

Quando o material é composto por pedregulhos, passa pelos chamados "moinhos", máquinas que trituram a rocha. Após essa etapa, também seguem para o mesmo tipo de rampa que termina no tanque fechado com mercúrio.

O segundo método de mineração – e o mais usado agora que o ouro é escasso –é através de galerias dentro de túneis profundos. Eles são abertos com explosivos. E de explosão em explosão, de galeria em galeria, podem chegar a 400 metros de profundidade.

Descida de arrepiar

A descida até lá dura 20 minutos e é feita através de um sistema tosco de cordas e roldanas, operadas pelos companheiros da superfície, que acompanham o processo por rádio. Os garimpeiros brincam que muitos se acovardam a descer. Pudera, acidentes fatais são costumeiros, a temperatura lembra a de uma sauna e a única luz da descida é uma lanterna de pilha, segura na mão e presa ao peito do garimpeiro por um cabinho. Durante o percurso, o túnel pode ter larguras de até 10 metros ou passagens estreitas de 1 metro. O destino final é uma galeria de cerca 10 metros de largura por 7 de altura, mal iluminada por lâmpadas de 60 watts. Lá, o garimpeiro enche uma grande esfera oca, de borracha grossa, capaz de suportar uma carga de pedregulhos que podem conter ouro. Essa bola é içada à superfície, e se tudo der certo, o garimpeiro volta também. Os acidentes mortais são encarados como destino divino.

Para os gerentes do garimpo, o dinheiro pode ser bom. Eles ganham até R$10 mil por semana, pagos em ouro, que aqui ainda é moeda. Nada é feito de acordo com a lei. As licenças de mineração expiraram e os explosivos – que exigem permissão do exército -- são usados ilegalmente. O trabalho é informal e o trabalho infantil, comum. Filho de garimpeiro entra logo para o garimpo, aprende a trabalhar, nem que seja para carregar pedras de um lado para o outro, com um carrinho de mão.

Para assistir ao vídeo e ler a reportagem completa, clique aqui.

FONTE: Texto de Victor Moriyama, para O ECO.

14 de mar. de 2013

Estudo aponta que PAC ameaça territórios indígenas na Amazônia

Grandes obras financiadas pelo governo federal através do Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC provocarão mudanças irreversíveis nos territórios onde vivem pelo menos 30 povos indígenas na Amazônia. A conclusão é de um estudo elaborado pelo Observatório dos Investimentos na Amazônia, iniciativa do Instituto de Estudos Socioecômicos.

O trabalho cruzou dados do PAC sobre os investimentos no setor de transporte e de energia elétrica. Em seguida, relacionou-os com as localizações das terras indígenas fornecidas pela Funai (Fundação Nacional do Índio). "Nas últimas duas décadas houve um vazio de informações sobre esse tipo de empreendimento. Nós temos que buscar no passado [década de 70] um pouco mais longínquo os impactos desse tipo de empreendimento e mostrar que esses eles podem ser irrecuperáveis do ponto de vista humano e ambiental”, disse a ((o))eco Ricardo Verdum, pesquisador do Inesc responsável pelo levantamento .

O estudo “as obras de infraestrutura do PAC e os povos indígenas na Amazônia Brasileira” contabiliza a construção de 82 obras de estradas e hidrovias previstas para ficarem prontas até 2014. Deste total, 43 projetos afetam uma ou mais terras indígenas. O estado do Amazonas concentra o maior número de obras, com 37. Rondônia vem em segundo, com 14, seguido do Pará, com 10.

O BNDES é o principal financiador desses projetos. Desde 2007, os investimentos do PAC somam 45 bilhões de reais para construção de estradas e usinas hidrelétricas apenas nas regiões Norte e Nordeste.

O histórico da abertura e/ou pavimentação de estradas é provocar grande impacto nas populações indígenas e na floresta. Um exemplo é a pavimentação da BR 319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), e a expansão da infraestrutura em direção à fronteira do Brasil com o Peru e a Bolívia. O asfaltamento de estradas costuma incentivar a ocupação de terras da união e exacerbar tensões no campo. A BR 319, por exemplo, irá conectar o chamado Arco do Desmatamento (trecho norte de Mato Grosso – sul do Amazonas – Rondônia) com a Amazônia Central, área onde a floresta está mais preservada. Provavelmente, agravará o desmatamento e a degradação florestal, como acontece com a BR163, cujo eixo concentra focos de desmatamento no Pará.

Hidrelétricas X terras indígenas
Segundo o estudo, perto de 90% das terras indígenas próximas a hidroelétricas do PAC já estão em risco:
“Essa situação é decorrência da presença ali da ação de madeireiras, mineração, empreendimentos e invasões para fins diversos. Além disso, ao menos em cinco dessas terras foi constatada a presença de comunidades em situação de isolamento voluntário”

A maior parte das hidrelétricas na Amazônia será construída no Pará, onde ficarão 9 usinas. Algumas já são alvos de ação na Justiça por alegação de desrespeito aos direitos indígenas. A Teles Pires, por exemplo, inundará cerca de 19 mil hectares da Terra Indígena Munduruku, obrigando o deslocamento e reassentamento das suas comunidades.

O estudo, lançado na última sexta-feira (28), pode ser lido neste link.
FONTE: Texto de Daniele Bragança, publicado aqui.

8 de mar. de 2013

As mulheres invisíveis por trás do chocolate


Assista ao vídeo produzido pela OXFAM para saber como é a vida as mulheres que produzem o cacau do seu chocolate favorito. Acesse http://bit.ly/XtdN29 e mude essa realidade.

FONTE: Daqui.

Mulheres são protagonistas nas lutas sociais e ambientais na Amazônia

Líderes dos movimentos sociais na Amazônia, essas mulheres também são responsáveis pela manutenção da cultura tradicional e pela conservação da floresta. Elas são camponesas, agroextrativistas e integrantes de comunidades tradicionais. Em comum, elas têm o desejo de que o Dia Internacional da Mulher, 8 de março,seja um marco para que elas possam ser e se sentir mais atuantes, como sujeitos políticos, capazes de influenciar a sociedade e mudar a relação com o meio ambiente. O texto completo com entrevistas com lideranças pode ser ouvido e está disponível aqui.

FONTE: Apresentação de Maíra Heinen, da Radioagência Nacional / EBC, disponível no Portal EcoDebate, 08/03/2013,

Belo Monte: situação caótica da Funai em Altamira preocupa MPF

Belo Monte

Procuradores querem rigor da Fundação contra a Norte Energia, que não cumpriu as condicionantes previstas para estruturar o atendimento aos indígenas impactados pela usina
O Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) recomendou à Fundação Nacional do Índio melhorias urgentes no atendimento aos índios na região de Altamira e mais rigor na fiscalização das responsabilidades da Norte Energia expressamente previstas como condicionantes no licenciamento de Belo Monte. Em vistoria no prédio da Fundação em fevereiro, perito do MPF constatou um ambiente caótico, sujo, sem condições dignas para os servidores e para os indígenas.
A licença de instalação concedida à Norte Energia estabeleceu que o empreendimento só teria viabilidade se houvesse “maciço e imediato investimento governamental” com a contribuição do empreendedor para o fortalecimento institucional da Funai, em virtude dos severos impactos provocados por Belo Monte e diante da incapacidade do escritório local de atender as demandas das populações indígenas.
Logo depois de receber a licença, a Norte Energia chegou a assinar um termo de compromisso com a Funai em que estava previsto o dito fortalecimento institucional, incluindo a construção de uma nova sede para a Fundação em Altamira, a contratação de equipe técnica, doação de equipamentos, material de consumo e prestação de serviços de manutenção. Mas o compromisso, considerado pelo MPF como insuficiente mesmo se fosse cumprido, expirou no ano passado, com execução apenas parcial. A nova sede nunca ficou pronta.
No ano passado, o MPF abriu um inquérito civil depois de receber manifesto dos servidores da Funai relatando as precárias condições de trabalho e a incapacidade do órgão indigenista de atender aos índios afetados por Belo Monte. Durante o inquérito, as procuradoras da República Thais Santi e Meliza Barbosa requisitaram informações à presidência da Funai, sem resposta.
Diante do silêncio da presidência, os mesmos questionamentos foram dirigidos então à Coordenação Regional Centro-Leste do Pará, da Funai, responsável pela região do médio Xingu. “A unidade da Funai não está em condições adequadas para atender as demandas decorrentes dos impactos causados pelo empreendimento”, foi a resposta, que ainda assinalava que “não ocorreu o fortalecimento institucional da Funai em Altamira, e sim, o seu enfraquecimento”.
Para o MPF, o inquérito revelou uma “realidade inaceitável”, de responsabilidade da Funai e da Norte Energia. A Funai deve adotar medidas administrativas tanto para garantir o fortalecimento institucional quanto para garantir que a Norte Energia cumpra suas obrigações socioambientais. A presidente da Fundação Marta Azevedo tem prazos de sete a 20 dias para tomar medidas para resolver a situação da sede, garantir o cumprimento das condicionantes e informá-las ao MPF.
“Em caso de impossibilidade de cumprimento da presente recomendação por vontade exclusiva do empreendedor, a Funai deverá comunicar oficialmente tal fato ao Ministério Público Federal”, concluem os procuradores Thais Santi, Meliza Barbosa, Ubiratan Cazetta e Felício Pontes Jr, signatários da recomendação.
O MPF recomendou à Funai:
  • Que adote as medidas adequadas e necessárias para exigir da Norte Energia o cumprimento imediato do termo de compromisso assinado como parte das condicionantes e até hoje não executado;
  • Que adote as medidas adequadas e necessárias para que as medidas condicionantes previstas na Licença de Instalação sejam cumpridas enquanto durarem os efeitos da construção e financiamento de Belo Monte, independente da vigência de convênios ou termos de compromisso;
  • Que apresente relatório detalhado sobre a demanda excedente da Coordenação Regional Centro-Leste do Pará gerada pela construção da Usina de Belo Monte;
  • Que avalie a conveniência de notificar à Advocacia Geral da União quanto à necessidade da presença constante de um procurador federal da Funai em Altamira.
FONTE: Informe do Ministério Público Federal no Pará, publicado pelo EcoDebate, 08/03/2013, disponível também aqui.

7 de mar. de 2013

Cachaça paraense que faz os lábios tremerem emplaca em São Paulo

Quem bebe a cachaça de jambu sente logo os lábios tremerem e ficarem dormentes. Essa característica garantiu o sucesso da bebida criada no Pará, misto de cachaça de alambique do Ceará com o jambu, erva da Amazônia.
A bebida começa a chegar a outros Estados. Em São Paulo, após cair no gosto de Alex Atala, está à venda no mercadinho anexo ao Dalva e Dito.

Tarso Sarraf/Folhapress
O empresário Leodoro Porto com a erva amazônica usada em sua cachaça aromatizada
O empresário Leodoro Porto com a erva amazônica usada em sua cachaça aromatizada
 
A cachaça de jambu foi criada no fim de 2011 pelo empresário Leodoro Porto, 44, um piauiense que há 19 anos é proprietário do boteco Meu Garoto, em Belém, especializado em cachaças.
"A cachaça potencializa o efeito do jambu", diz Porto. Ele já havia feito cachaças de açaí e de bacuri, frutas típicas da região. Mas nenhuma fez tanto sucesso como a de jambu, que ele estima ter duplicado seus lucros.

A expansão de seu negócio esbarra na produção artesanal. Hoje, Porto produz cerca de cem litros por semana, rapidamente consumidos em seu boteco e vendidos para outros Estados.

O empresário patenteou a cachaça e planeja mecanizar uma parte do processo, como o enchimento das garrafas, mas sem que a produção deixe de ser artesanal.

Por provocar dormência, é recomendável tomar a bebida com petiscos quentes, crocantes e apimentados, explica o paraense Thiago Castanho, chef do Remanso do Peixe.

Para Atala, a receptividade ao produto tem sido boa. "Ainda que o primeiro gole possa causar estranheza, a fascinação vem em seguida."

Florestas são essenciais para manutenção da qualidade da água regiões de atividade agropecuária

Florestas florestas são melhor cobertura do solo para manter qualidade de águas superficiais
Enriquecer cobertura florestal pode manter qualidade da água
A presença de cobertura florestal é essencial para a manutenção da qualidade da água dos corpos d’água em regiões com atividade agrícola e pecuária. Ao mesmo tempo, a recuperação e o enriquecimento das florestas já existentes pode proporcionar uma resposta mais rápida para a proteção das águas superficiais. As constatações são de uma pesquisa da engenheira Carla Cristina Cassiano realizada no Departamento de Ciências Florestais (LCF) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.
O estudo foi dividido em duas partes. A primeira buscou avaliar as condições da vegetação florestal na área de estudo e o seu potencial na prestação de serviços, e a segunda parte mensurou o efeito desta vegetação em parâmetros físico-químicos da água. “As unidades de estudo foram definidas na bacia do rio Corumbataí (interior de São Paulo), a partir do mapeamento do uso do solo do ano de 2000 pelo método de amostragem adaptativa, onde as unidades deveriam apresentar um mínimo de 70% de matriz e 10% de cobertura florestal”, explica Carla. ”Foram selecionadas seis unidades de 16 quilômetros quadrados (km2), três unidades com matriz de pasto e três unidades com matriz de cana-de-açúcar”.
Com as unidades definidas foram realizados os mapeamentos por fotointerpretação para cinco datas (1962, 1978,1995, 2000 e 2008) e, a partir desse mapeamento, foi possível calcular as mudanças do uso do solo e índices para os fragmentos florestais que identificaram sua trajetória. “A pesquisa propôs uma metodologia para caracterizar o potencial de proteção dos recursos hídricos pelas florestas a partir da estrutura e dinâmica da paisagem, permitindo a diferenciação da vegetação florestal de acordo com o seu histórico, localização e características do terreno”, aponta o professor Silvio Frosini de Barros Ferraz, que orientou a pesquisa.
Vegetação florestal
Segundo a autora do trabalho, os resultados mostraram que a vegetação florestal na área de estudo tem aumentado nos últimos anos, dando indícios ao inicio de uma fase de regeneração, conhecida como a segunda fase da transição florestal, porém apenas estudos futuros poderão confirmar essa análise. “No entanto, a paisagem apresentou uma baixa cobertura florestal, de aproximadamente 16% da área de estudo, com muitos fragmentos pequenos, geralmente próximos a cursos d’água de primeira ordem. Das florestas existentes, apenas um terço estaria exercendo seu potencial pleno de conservação das águas”, conta.
De acordo com o orientador do estudo, quando pensamos em aumentar a proteção dos recursos hídricos pela vegetação florestal é interessante se atentar para a recuperação dos fragmentos florestais já presentes na paisagem. “Muitas vezes é dada uma importância maior ao plantio de novas áreas, do que ao enriquecimento das já existentes. Plantios novos levarão mais tempo para se estabelecer e se desenvolver enquanto a recuperação dos fragmentos poderá apresentar uma resposta mais rápida para o aumento e a permanência dessa vegetação florestal na paisagem e consequentemente para oferta de serviços ecossistêmicos”, conclui Ferraz.
A conversão de florestas em usos antrópicos tende a reduzir a qualidade da água, devido ao aporte de nutrientes e sedimentos provenientes da movimentação e manejo do solo. “As florestas se apresentam como a melhor cobertura do solo para a manutenção da qualidade natural das águas superficiais, proporcionando serviços ecossistêmicos de regulação e provisão desse recurso”, aponta Carla. Em contrapartida, segundo a pesquisadora, “a presença de vegetação florestal na área ripária pode reduzir esses efeitos, através da prestação de alguns serviços de proteção dos corpos d’água”.
Com o objetivo de detectar a influência da mata ciliar na composição físico-química da água em microbacias agrícolas, a engenheira florestal desenvolveu, no programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Esalq um trabalho de avaliação da cobertura florestal sua relação com os recursos hídricos. A proposta está inserida no projeto “Avaliação multi-escala de impactos ambientais em paisagem fragmentada agrícola” coordenado pela professora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, do LCF, que busca avaliar os impactos na fauna, na flora e na água resultantes da ocupação e uso do solo na área rural. O professor Silvio Frosini de Barros Ferraz, também do LCF, orientou a pesquisa, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

FONTE: Texto de Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq, publicado pelo EcoDebate, 07/03/2013

Plano de Mineração Nacional e os impactos sociais no Brasil. Entrevista com Rodrigo Salles Pereira dos Santos

“No que diz respeito aos efeitos socioambientais, a mineração vincula, em geral, uma disputa acerca de bens comuns, como o patrimônio cultural e histórico, o solo, o ar e, principalmente, a água”, pondera o professor.

Uma das principais molas propulsoras da economia dos países em desenvolvimento, sobretudo os que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é a industrialização e exportação de bens de consumo. O Brasil exerce papel importante nesse processo sendo um dos principais fornecedores de commodities, principalmente para indústria automobilística da China e da Índia, e para tanto, na avaliação do professor, tem centrado a economia na perspectiva da exploração ambiental. “Ademais, no contexto específico do boom das commodities e, portanto, da ampliação dos estímulos à atividade, a mineração opera como força centrípeta, fazendo girar em torno de si os investimentos econômicos no território”, avalia Rodrigo Salles Pereira dos Santos, em entrevista concedida por email para a IHU On-Line.
O Plano de Mineração Nacional 2030 prevê um aumento de até cinco vezes no processo de mineração no território brasileiro. “Em realidade, a principal consequência da aposta do Estado brasileiro na indústria extrativa mineral é o reforço da dependência externa da economia nacional, tornando-a vulnerável às oscilações de processos de desenvolvimento econômico externos e, especificamente, do boom econômico chinês”, destaca o professor, ressaltando que o plano de mineração causa uma dependência do Brasil à economia externa.
Rodrigo Salles Pereira dos Santos é professor adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF, formado em Ciência Sociais e com mestrado e doutorado em Antropologia e Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também se pós-graduou na School of Social Sciences, Cardiff University. É um dos autores do livro Guia de Economia Solidária – ou porque não organizar cooperativas para populações carentes.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como hoje é feita a exploração mineral no Brasil?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – A mineração é regida, no Brasil, pelo Código Mineral instituído por meio do Decreto-lei n. 227 de 1967, e por instrumentos legislativos complementares. O Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM é o responsável pela outorga de autorização de pesquisa (exploração), com validade entre 1 e 3 anos. Já o Ministério de Minas e Energia – MME se responsabiliza diretamente pela autorização de lavra (explotação), que não possui prazo de expiração. No Brasil, pessoas físicas ou jurídicas constituídas em território nacional podem requerer outorgas de pesquisa e de lavra que são, por sua vez, transferíveis a terceiros. Nesse sentido, uma crítica importante que vem sendo feita à forma atual da exploração e da explotação minerais no Brasil diz respeito à necessidade de maior regulação estatal (e não pública) do setor no sentido da ampliação da pesquisa e lavra – em detrimento de práticas especulativas de alienação das outorgas.
IHU On-Line – Quais os impactos sociais da mineração no país e quais as regiões que mais sofrem implicações sociais e ambientais? Qual é o custo/benefício desta atividade para as regiões que estão no entorno das minas?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – O tema dos impactos da mineração, sejam eles ambientais, econômicos e/ou sociais, é controverso. No entanto, no que se refere aos seus efeitos econômicos, a atividade de explotação mineral se caracteriza, em grande medida, pela reduzida capacidade de estabelecer elos com dinâmicas econômicas locais e regionais, particularmente no contexto de projetos minerários predominantemente voltados para a exportação. A noção de enclave vem sendo, portanto, classicamente associada à mineração na literatura especializada. Ademais, no contexto específico do boom das commodities e, portanto, da ampliação dos estímulos à atividade, a mineração opera como força centrípeta, fazendo girar em torno de si os investimentos econômicos no território. Nesse sentido também, observa-se uma reorientação do setor terciário e, em particular, do mercado imobiliário para o atendimento das demandas de mineradoras e prestadoras de serviços, assim como a destinação dos recursos destinados à qualificação profissional, por exemplo, passam a ser pautada pelas necessidades do setor.
No que diz respeito aos efeitos socioambientais, a mineração vincula, em geral, uma disputa acerca de bens comuns, como o patrimônio cultural e histórico, o solo, o ar e, principalmente, a água, que tem constituído o principal elemento da contestação promovida por organizações e movimentos sociais atualmente em Minas Gerais, particulamente na Serra da Gandarela, em torno do projeto Apolo da Vale S.A., e em Congonhas, no que concerne à expansão da mina Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. De fato, considerando o desenvolvimento da ocupação do território nacional – sobretudo na Amazônia , a expansão da explotação mineral tem ampliado, fundamentalmente, o conflito socioambiental de base territorial. Populações urbanas e rurais, tradicionais e indígenas, dentre outros grupos de afetados – considerados, quando muito, “superficiários” , têm tido seus direitos consuetudinários desrespeitados recorrentemente, sob a proteção de um Estado cujas bases econômicas estão estruturalmente atadas ao projeto neoextrativista.

IHU On-Line
– Quais são as maiores contradições do Estado brasileiro em relação à mineração e à exploração dos recursos minerais?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – O Estado brasileiro vem tratando a indústria extrativa mineral como base da renovação de sua inserção externa – leia-se inserção regressiva na divisão internacional do trabalho. Na prática, a expansão da participação dessa indústria no valor adicionado nacional se ampliou de 1,6% em 2000 para 4,1% em 2011, com perda concomitante da indústria da transformação. Mais importante, em 2009, essa indústria exportou US$ 30,83 bilhões, cerca de 20% do total das exportações brasileiras (US$ 152,99 bilhões) no ano, correspondendo, ainda, a mais de 3/5 da balança comercial (US$ 25,29 bilhões). Considerando a centralidade de sua participação na política comercial brasileira, a ação do Estado no sentido da regulação produtivista do setor converge explicitamente com a necessidade da manutenção de saldos positivos da balança. A contradição fundamental, no entanto, ao nível discursivo propriamente, é que a expansão da indústria extrativa mineral vem sendo defendida como núcleo de um cenário futuro de industrialização como agregação de valor e tecnologia, cenário este que parece pouco provável atualmente, considerando a situação dos principais mercados de bens de base mineral.
IHU On-Line – A extração de minério se configura como um problema social em vários países do mundo, ou já há exemplos internacionais de exploração sem riscos?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – O risco é um elemento fundamental de toda atividade econômica. É possível afirmar, com razoável acerto, que não há atividade econômica sem risco, seja ele econômico ou socioambiental. No entanto, formatos organizacionais e tecnológicos específicos são efetivamente capazes de reduzir os riscos associados às atividades extrativas minerais. A questão central, entretanto, gira em torno das formas de controle público dos riscos, pouco desenvolvidas no Brasil e que vêm sendo erodidas sistematicamente no contexto atual. Global players e pequenas mineradoras vêm configurando projetos de exploração e explotação que são pressionados, de um lado, por gerências e acionistas ávidos e termos de amortização de empréstimos bastante agressivos, assim como por governos, em níveis federal, estadual e municipal, cada vez mais dependentes da renda mineral para o equacionamento de suas dívidas públicas e para a implementação de programas e projetos de investimento público cruciais do ponto de vista de sua legitimidade política.
Nesse sentido, não apenas no Brasil, mas nas principais fronteiras minerais do mundo, como a África do Sul (massacre de trabalhadores mineiros em projeto da Anglo Platinum), em Papua Nova Guiné (desastre ambiental na mina Ok Tedi, uma joint venture da BHP Billiton), na Ucrânia (inúmeras minas de carvão abandonadas), além de inúmeros exemplos na América Latina e na África, os riscos socioambientais em torno da mineração têm apenas crescido em face das pressões por lucratividade e financiamento público.
IHU On-Line – Discute-se a possibilidade de elaborar um novo Código para a Mineração. É necessário?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – Certamente, o estabelecimento de um novo marco regulatório específico para a indústria extrativa mineral é uma necessidade premente, considerando que a legislação setorial foi estabelecida sob os auspícios da ditadura civil militar, ainda em 1967. Mas o curioso e trágico ao mesmo tempo é que a discussão do novo Código da Mineração vem reforçando os dois principais aspectos do marco prévio: as diretrizes autoritária e produtivista de sua regulação. De um lado, o principal documento indicativo da direção do novo Código é o Plano Nacional de Mineração 2030. Apesar de o governo federal ter realizado cerca de 10 oficinas participativas para sua discussão, apenas funcionários de ministérios, empresas públicas e autarquias federais responderam por mais de 50% dos participantes, enquanto as empresas e seus organismos de representação se fizeram notar de forma secundária. Trabalhadores e sindicatos, movimentos sociais e ONGs, atingidos e populações indígenas e tradicionais foram virtualmente excluídos do processo, tornando o plano um indicativo importante do caráter puramente tecnocrático do Código. No momento em que três projetos de lei associados a este Código – sendo um relativo ao próprio Código – vêm sendo elaborados pelo poder Executivo e, na presença de uma lei de transparência pública sancionada (Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011), todas as solicitações de acesso aos projetos vêm sendo rigorosamente negadas, reforçando o caráter antidemocrático da futura política mineral. Uma contribuição essencial a essa discussão foi produzida recentemente por Julianna Malerba, Bruno Milanez e Luiz Jardim Wanderley. O “Novo Marco Legal da Mineração no Brasil. Para quê? Para quem?” me parece uma leitura-chave para quem busca discutir, de forma aprofundada, a mudança no marco regulatório, considerando em especial a escassez de informação fidedigna sobre as intenções do governo federal.
IHU On-Line – Como o senhor avalia a intenção do governo federal, de triplicar a exploração mineral até 2030? Quais os benefícios e, por outro lado, as implicações dessa medida?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – O Plano Nacional de Mineração 2030 explicita a intenção estatal de expandir a explotação de minerais variados entre três e cinco vezes, considerando um cenário otimista de crescimento da economia mundial. Implicitamente, esse documento reconhece a dependência da economia brasileira em relação aos novos centros dinâmicos da acumulação de capital, em particular a China. Um dado interessante sobre as exportações minerais brasileiras – referido a 2009 – é que a participação dos minerais metálicos (90,04%) e, principalmente, do minério de ferro (63,58%), no valor exportado pelo setor (US$ 27,76 bilhões), demonstra claramente a centralidade de uma única commodity no segmento mineral da pauta exportadora nacional. O minério de ferro é também a commodity crucial, quanto ao volume, de grande parte da indústria da transformação. Na prática, a siderurgia, que consome 98% de todo o ferro extraído e processado primariamente no mundo, está na base de redes de produção na indústria de bens de consumo duráveis (em especial, a automobilística) e nos segmentos de infraestrutura (em particular, a construção civil). São esses os setores que crescem, efetivamente, nos Brics e, com particular força, na Índia e na China, que vivem processos concretos de industrialização.
Nesse sentido, pode ser entendida a participação da China de 49% (153 Mt. em 2010) no consumo do minério de ferro exportado pelo Brasil. Em realidade, a principal consequência da aposta do Estado brasileiro na indústria extrativa mineral é o reforço da dependência externa da economia nacional, tornando-a vulnerável às oscilações de processos de desenvolvimento econômico externos e, especificamente, do boom econômico chinês. No entanto, essa aposta se traduz também, considerando a triplicação ou quintuplicação prevista da extração mineral, em expansão exponencial do conflito socioambiental nos territórios minerais. De fato, a experiência concreta dessa dependência é a retração e reversão dos direitos territoriais relacionados aos bens naturais e coletivos.
IHU On-Line – Nas discussões acerca do novo Código, sugere-se aumentar a participação do Estado nos resultados financeiros gerados pelas atividades minerais. O que isso significa e quais as implicações?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – A revisão da participação do Estado brasileiro nos resultados econômicos da indústria extrativa mineral acompanha uma tendência mundial generalizada de recrudescimento da captura da renda mineral. O chamado primeiro bom das commodities, entre 2003 e 2008, e a situação crítica do déficit público nas economias desenvolvidas acentuaram dramaticamente a pressão para a busca de novas formas de receita governamental, e, desse modo, compuseram um cenário prospectivo de elevação da taxação mineral, o que tem provocado reações exasperadas dos principais players mineradores do mundo. No entanto, a tributação mineral efetiva no Brasil é comparativamente permissiva. Em ranking composto por 30 dos principais países e províncias minerais, o Brasil ocupa a modestíssima 26ª posição, ao onerar 35% da renda mineral formal. No entanto, os regimes de incentivos fiscais concedidos a determinados projetos e atividades de mineração com orientação exportadora implicam uma carga tributária efetiva significativamente inferior. A esse respeito, a revisão em sentido ascendente das alíquotas minerais (com a criação de bandas de taxação, sensíveis à qualidade e quantidade de diferentes minérios) tem pouca possibilidade de afetar negativamente o nível de investimento no setor. Da perspectiva do Estado brasileiro, a ampliação de sua participação na renda mineral constitui um elemento importante do equacionamento do déficit e do equilíbrio das contas públicas, de modo que a legitimidade política do modelo econômico nacional vem se apoiando, crescentemente, na contribuição da indústria extrativa mineral – e que tende a se ampliar.
IHU On-Line – Como compreender os investimentos dos governos progressistas da América Latina no setor, com a justificativa de superar a desigualdade e a pobreza?
Rodrigo Salles Pereira dos Santos – Levando seriamente em conta as objeções socioambientais e econômicas à indústria extrativa mineral, que a tornam uma atividade sujeita à contestação social, a construção de um discurso político centrado em sua justificação e legitimação como mecanismo de superação da desigualdade e pobreza soa previsível. Em realidade, a indústria extrativa mineral opera economicamente como estrutura de concentração de renda, pois que, de um lado, é capital e tecnologicamente intensiva, integrando volumes pouco expressivos de trabalhadores e elevada produtividade do trabalho; e, de outro, converte bens naturais não explorados, previamente coletivos, em recursos privados, a custos baixíssimos. Nesse sentido, da perspectiva dos territórios minerais, a indústria extrativa mineral é produtora e reprodutora de desigualdades socioeconômicas. Por sua vez, a estruturação de uma estratégia de superação da desigualdade e da pobreza na América Latina certamente passa por uma via redistributiva (estatal) da renda nacional criada. Não é pouco significativo o papel dos governos progressistas na Bolívia e no Equador, por exemplo, na associação da renda mineral capturada pelo Estado a uma estratégia redistributiva. No entanto, ela não pode prescindir de uma via produtiva própria, onde os bens naturais e o trabalho possuam centralidade e que questione estratégias path dependent ou tradicionais de desenvolvimento como crescimento ad eternum. Na prática, a via neoextrativista que se consolida nesse momento é estruturalmente incapaz de superar as condições periférica e semiperiférica que ainda vigem na América Latina.

FONTE: Foto: reprodução www.camaracongonhas.mg.gov.br.
(Ecodebate, 07/03/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.