23 de jun. de 2014

Acervo de canções indígenas da Amazônia chega na internet, veja


A diversidade musical das comunidades indígenas do norte do Amazonas e do Estado de Roraima foi reunida em uma inédita e rica coletânea. São quase quatro horas de 80 faixas musicais de grupos indígenas das etnias baniwa, wapichana, macuxi e tauepang, resultado do projeto intitulado “A Música das Cachoeiras” do grupo Cauxi Produtora Cultural. O nome é uma referência às correntezas da bacia do Alto rio Negro. O coordenador Agenor Vasconcelo define o projeto como um “registro etnográfico audiovisual”, no qual o principal foco é a música.

O lançamento em Manaus acontece no próximo dia 6 de dezembro, na Estação Cultural Arte e Fato. É partir desta data que o conteúdo completo estará disponível para download pelo endereço www.musicadascachoeiras.com.br.  Uma prévia do material já pode ser acessada nos seguintes endereços: facebook.com/musicadascachoeiras e soundcloud.com/musicadascachoeiras.

Os autores do projeto “A Música das Cachoeiras” empreenderam uma expedição de janeiro a junho deste ano nas comunidades indígenas. Registraram a gaitada do músico Ademarzino Garrido e a embolada do pandeiro de comunidades do Alto Rio Negro, no Amazonas, a incomum mistura forró tradicional com a dança tradicional Parixara, o hip-hop dos índios taurepang, entre outros gêneros musicais indígenas.

Conheceram músicos de cada comunidade, além de compositores já consolidados nas cidades de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, e em Boa Vista (RR), como Paulo Moura, Eliakim Rufino, Mike Gy Brás, Paulo Fabiano e Rivanildo Fidelis.

O projeto foi integralmente patrocinado pelo programa Natura Musical, no valor de R$ 100 mil, selecionado por meio de edital nacional em 2012, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Governo Federal. O acervo inclui gravação de músicas e vídeos, registros fotográficos, produção de uma cartilha e a criação de um site. 

Os realizadores explicam que o projeto nasceu de uma ideia: resgatar a mesma expedição que etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) realizou nas comunidades do Alto Rio Negro e na região do Monte Roraima entre 1903 e 1913. Koch-Grünberg foi um pesquisador que morou na região e registrou em suas obras a cultura material e imaterial dos povos ameríndios.

Agenor Vasconcelos tomou conhecimento sobre a pesquisa do alemão na época em que fazia mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “O grande desafio após o término do mestrado seria poder viajar e colher as minhas próprias impressões, refazendo o trajeto já esmiuçado por mim diversas vezes mentalmente por meio dos registros de Koch-Grünberg. O que eu não esperava seria a possibilidade de formar um grupo expedicionário para pesquisar em equipe. Isso foi fantástico”, explicou.

Após a seleção no projeto Natura Musical, uma equipe de seis pessoas formada por músicos, fotógrafos, produtores e antropólogos iniciou a viagem pelas áreas escolhidas. Envolvidos de tal forma com os músicos de cada região, a equipe acabou também produzindo composições com os integrantes das bandas das comunidades.

“Mas não havia intervenção direta. Sempre estávamos preocupados em possibilitar uma gravação profissional independente das condições de trabalho. Na foz do rio Içana, por exemplo, ponto limítrofe da expedição no alto rio Negro, conseguimos reunir uma banda de teclado, guitarra e vocal. Havíamos levado pré-amplificadores, microfones condensadores, interface de áudio e muitos quilos de equipamentos para montar um estúdio aonde quer que fosse. Gravamos e os resultados são maravilhosos e divertidos”, explica.

Inspiração e aprendizado

Entre as boas surpresas encontradas na viagem, está Ademarzinho Garrido que, segundo Vasconcelos, é descendente de Germano Garrido, anfitrião de Koch-Grünberg na época em que o alemão esteve no Alto Rio Negro. Ademarzinho é líder da banda Maripuriana, onde toca violão e gaita. No registro feito pela equipe, Vasconcelos descreve a participação de Ademarzinho como o autor de “um solo de gaita, que dialoga com a guitarra em vários momentos da canção”.

A equipe também esteve na comunidade baniwa Itacoatiara-mirim, onde conheceu Luiz Laureno, e na comunidade Boa Vista, na foz do rio Içana, onde gravou com a banda Taína Rukena. Nesta mesma comunidade registrou hinos evangélicos cantados na língua nhengatu acompanhados em teclados eletrônicos e em ritmo calipso.

Nas comunidades indígenas de Roraima, o grupo registrou o som parixara, um ritmo “lento que se dança em longas filas e rodas e com cantos variados”, conforme descreve Agenor Vasconcelos, e o tukúi e marik, cantos interpretados pelos índios macuxi e taurepang.

Além do componente etnográfico e audiovisual, a equipe de “A Música das Cachoeiras” espera que o acervo seja uma fonte de pesquisa para futuras gerações e inspiração para os artistas. “Tanto músicos como pintores, literatos, poderão basear novas criações a partir dessa tão rica cultura Amazônica”, diz Vasconcelos.

O coordenador conta que a pesquisa foi também um aprendizado para eles próprios. “Pudemos aprender nuances da língua e da cultura dos povos que tivemos oportunidade de conhecer. Por meio da música figurativa, cantada, também percebemos a língua indígena viva no seio de um Brasil distante”, afirma..

O projeto “A Música das Cachoeiras” estará disponível gratuitamente no site oficial. Ele é composto por faixas, clipes e mini-documentários. Um livro-CD que também foi produzido terá 2/3 de seus exemplares distribuídos gratuitamente.

Participação de comunidades
 
O indígena do Alto Rio Negro Moisés Luiz da Silva considera o registro e a divulgação da música de seu povo como fundamental para valorização da cultura baniwa. Moisés foi o principal articular entre a equipe do projeto e as lideranças da sua comunidade Itacoatiara-mirim. Entre os que participaram da gravação estão Luiz  Laureano da Silva, mestre da maloca, Mário Felício Joaquim e Luzia Inácia.

“Recebi a notícia sobre o projeto pela professora Deisy Montardo (Ufam). Então o Agenor entrou em contato comigo e conversamos. O segundo plano foi consultar o povo e as lideranças baniwa, que concordaram em participar. Achamos que esse registro de gravações de músicas é uma forma de valorizar nossa cultura e divulgar para outras sociedades indígenas e não-indígenas”, afirmou Moisés.
O grupo baniwa já participou de outros projetos, como o Podáali Valorização das Músicas, patrocinado pela Petrobrás Cultural, e do Museu do Índio, em 2013.

FONTE: Texto do site Amazônia Real, disponível também aqui. 

"Metade dos documentos de posse de terra no Brasil é ilegal"

A afirmação é do geógrafo Ariovaldo Umbelino, para quem o programa Terra Legal permitirá que terras do patrimônio público ocupadas ilegalmente se transformem em propriedade privada.

Ariovaldo 

O geógrafo, pesquisador e professor da USP Ariovaldo Umbelino fala sobre a situação de propriedades que utilizam terras retiradas do patrimônio público ilegalmente, os famosos casos de grilagem, e também se diz contrário ao programa “Terra Legal” do Governo Federal.

“Nós temos no Brasil hoje um numero elevadíssimo de escrituras onde não há fazendas”, comenta o geógrafo. Ele explica que no país existe um número alto de fraudes na documentação de terras, principalmente em municípios com importância econômica, como em São Félix do Xingu, no Pará, que possui o segundo maior rebanho de carne bovina do país.

No começo de 2012, o geógrafo integrou um grupo que realizou um comparativo entre o processo de retomada das terras devolutas do portal do Paranapanema, em São Paulo, com o que estava acontecendo em São Félix do Xingu. Advogados da Faculdade de Direito do Pará também participaram do projeto e o pesquisador liderou a equipe que foi a campo analisar a situação da região.

“Nós verificamos que, na realidade, praticamente 100% dos documentos legais do cartório têm que ser anulados, porque são falsos. A corregedoria do Pará anulou todas as escrituras registradas no cartório de registro de imóveis de São Félix do Xingu”, afirma. E também indaga: “Ninguém é dono das terras mais. Bem, dono do papel. Mas quem está lá na fazenda hoje?”.

Umbelino alerta que o problema não é uma situação isolada ao norte do Brasil. Atualmente ele enfrenta a mesma realidade em outros estados do país. “Isso tem em todos os municípios do Brasil. Estou fazendo esse trabalho lá em Minas Gerais, em Riacho dos Machados, é a mesma coisa. Metade dos documentos é ilegal”, afirma. 


FONTE: Texto de por Marcella Lourenzett, publicado pela Carta Capital, disponível também aqui

11 de jun. de 2014

194 mil hectares da Flona do Crepori (PA) são concedidos para manejo sustentável

Com a assinatura dos contratos de concessão, o total de áreas federais destinadas ao manejo sustentável chega a 480 mil hectares

Duas unidades de manejo florestal (UMF) da Floresta Nacional do Crepori, sudoeste do Pará, foram concedidas para a empresa paraense Brasad’Oc Timber realizar atividades de manejo sustentável. A assinatura dos contratos foi realizada hoje (06/06) na sede do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), em Brasília, e contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
As unidades de aproximadamente 134 e 60 mil hectares estão localizadas no município de Jacareacanga e a partir da operação das concessões poderão produzir mais de 100 mil metros cúbicos de madeira por ano. A estimativa é que sejam gerados até 380 empregos diretos quando as áreas entrarem em plena produção.
A ministra Izabella Teixeira enfatizou o impacto que a concessão florestal poderá trazer para a realidade do município. “Jacareacanga é um município coberto por unidades de conservação e terras indígenas e possui um dos menores IDH do país. Essas concessões podem influenciar a realidade do município”, afirmou.
Outro ponto destacado pela ministra foi a relação entre concessão e conservação ambiental. “A concessão ajuda a conservar. Valoriza a floresta em pé e leva desenvolvimento para áreas remotas”, concluiu.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentin, também relacionou as concessões florestais às estratégias de conservação. “Cada contrato assinado fortalece a relação virtuosa entre concessão e conservação da floresta”, afirmou.
De acordo com o diretor-geral substituto do SFB, Marcus Vinícius Alves, a concessão na Flona do Crepori contribuirá para o ordenamento territorial da região da BR 163 e para o desenvolvimento econômico da região. “A concessão florestal ainda é um trabalho inovador e pouco conhecido, mas é uma iniciativa fundamental para que a floresta tropical deixe de ser um passivo para tornar-se um ativo econômico do país”, afirmou.

FONTE: ASCOM SFB.

Hidrelétricas no Tapajós acirram conflitos em Jacareacanga

"Uma carta escrita no final de maio mas divulgada apenas nesta segunda, 9, pelo Movimento Munduruku Ipereng Ayu, aponta uma grande preocupação, por parte da comunidade indígena da região de Jacareacanga, PA, de que a prefeitura do município está tentando interferir na organização dos Munduruku, acirrando conflitos internos e com a população da cidade.

Assinada a punho por lideranças, caciques, estudantes e professores indígenas, a carta denuncia uma reunião, convocada pelo Secretário de Assuntos Indígenas de Jacareacanga, Ivânio Alencar Nogueira, com o apoio da associação indígena Pusuru, que dizia ter como objetivo discutir a “organização social” do povo Munduruku. Ocorrida nos dias 1 e 2 de junho na aldeia Karapanatuba, às margens do Tapajós, segundo texto no blog de Alencar a reunião teria decidido que a Pusuru, associação que tem participado de processos de negociação sobre o complexo hidrelétrico do Tapajós com o governo federal – à revelia de grande parte da população Munduruku, que optou pela resistência contra as usinas- é a única representante do povo Munduruku.

“O Secretário de Assuntos Indígenas está pressionando alguns representantes Munduruku da Associação Pusuru para se posicionarem contra os demais indígenas que não concordam com as posições do governo”, denuncia o documento divulgado hoje. A carta também deslegitima a reunião de Karapanatuba, acusando a Prefeitura de Jacareacanga – que está nas mãos do PT e foi acusada de compra de votos de indígenas nas ultimas eleições – de tentar desestabilizar a resistência dos Munduruku para implementar as hidrelétricas na região, e não garantir sua principal reivindicação de recontratação de 70 professores munduruku, demitidos no final de fevereiro. “Entendemos que a reunião na aldeia Karapanatuba não poderá decidir sobre as atividades que impactem o povo Munduruku, como por exemplo fazer acordos, aprovar projetos ou autorizar coisas sem conversar e consultar com o povo Munduruku”.

Continue a ler aqui: http://www.xinguvivo.org.br/2014/06/09/prefeitura-de-jacareacanga-manipula-para-dividir-mundurukus-denuncia-documento/

FONTE: Xingu Vivo.

6 de jun. de 2014

Autoridades defendem corredor de exportação de grãos até Santarém

O governador Simão Jatene, o prefeito de Santarém, Alexandre Von, secretários e vereadores, além de outras autoridades foram recebidos em audiência no dia 05/06 em Brasília, pelo ministro dos Transportes, César Borges. O principal assunto da pauta foi a necessidade de que o corredor de exportação de grãos da BR-163 chegue até Santarém.

No mês de março passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou a disposição do governo federal fazer concessão do trecho da BR-163 entre Sinop e Miritituba (assunto denunciado pelo Portal Muiraquitã, que você conferir neste link), deixando o trecho fora o trecho de mais de 300 quilômetros entre o KM 30 da Transamazônica até Santarém. A notícia provocou intensa movimentação na classe política de Santarém e desde então o prefeito Alexandre Von vem articulando reuniões em Brasília para tratar do assunto.

No encontro do dia 05 com o ministro também estiveram presentes os representantes da bancada federal do Pará no Congresso Nacional, como o senador Flexa Ribeiro e os deputados federais Lira Maia e Miriquinho Batista, além do secretário executivo do ministério, Anivaldo Vale, e o diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Jorge Bastos.

A exclusão de Santarém foi o ponto alto do encontro, o que levou o ministro Cesar Borges a confirmar que a concessão só até Miritituba foi uma solicitação dos produtores de grãos do Mato Grosso. “Fizemos um planejamento e iniciamos apenas as concessões no trecho do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, porém, o próprio setor privado manifestou interesse junto ao ministério para que sejam feitos estudos que verifiquem a possibilidade de fazermos leilões para concessão até Miritituba. Não temos ainda nada definido, mas sabemos que existe o interesse, e experiências anteriores nos mostraram que é possível fazer isso com descontos e com custo de investimento que torne o projeto viável”, disse o ministro.

César Borges disse também que, além da rodovia, existe interesse internacional, especialmente de empresários chineses, em construir uma ferrovia no mesmo trajeto, o que não descartaria a possibilidade de concessão na rodovia. “Tudo está ainda no começo, e temos como princípio garantir, caso seja definida a concessão, que o usuário tenha condições de usar plenamente a rodovia. Temos experiências extremamente positivas neste sentido”, afirmou.

Durante a reunião, todos os representantes do Pará destacaram a necessidade de que sejam garantidas as melhorias em toda a extensão da BR-163 no trecho paraense, chegando até Santarém. Os parlamentares e o prefeito de Santarém destacaram que, além de Miritituba, Santarém prevê expansão de portos e a chegada de novos investimentos.

O próprio governadorSimão Jatene foi enfático na defesa de Santarém. Para ele o projeto de melhorias ao longo da rodovia BR-163 seria incompleto se não contemplasse Santarém. “Mostramos que Santarém polariza a região e que as melhorias teriam que ser integrais, ainda mais pelo fato de crescimento da região, como os investimentos em execução, os previstos e a instalação de um Posto Avançado da Zona Franca de Manaus em Santarém, por exemplo. Nosso maior empenho tem sido em demonstrar que não queremos o Pará como porta de saída ou corredor de exportação. Nosso interesse é que as diferentes regiões do Estado sejam portas de entrada e de chegada de novos investimentos”, comentou o governador.

No fim da reunião, ficou definido que o Ministério dos Transportes vai reunir equipes técnicas da pasta com empresas do setor que já demonstraram interesse em possíveis concessões na BR-163, mas que relutavam em levar os trechos até Santarém por conta do alto custo que seria exigido para duplicação em rodovia tão extensa. “Então chegou-se ao ponto da discussão da viabilidade integral do projeto. Foi apresentada a possibilidade de ser feito estudo que contemple, após a consolidação da pavimentação, que nos trechos de subidas, descidas e áreas urbanas seja construída uma terceira pista, o que certamente viabilizaria um tráfego melhor e deslocamento de carga com segurança para todos os usuários, sem que o custo de tal iniciativa seja proibitivo, como estava sendo tratada a ampliação do trajeto para contemplar Santarém”, completou Simão Jatene.

FONTE: Texto com informações de Daniel Nardin/Secom-Pará, disponível também aqui.