29 de jun. de 2016

Tecnologia de aproveitamento do couro de peixes da Amazônia é desperdiçada

Com 70 anos de experiência no curtimento de pele de animais, o aposentado José Jorge da Silva Rebello, 90, ainda tem um sonho para colocar em prática: ver a confecção de couro de peixes sendo produzida em grande escala.


Um dos pioneiros do Estado a desenvolver técnicas para transformar as peles de peixes amazônicos em couro de boa qualidade, hoje, ele lamenta por nenhum empresário ter se interessado em levar o projeto para a indústria. Só no Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia (Inpa) foram mais de 20 anos dedicados à pesquisa, que comprovou que o subproduto do pescado, que geralmente é desperdiçado, pode sim ser utilizado na fabricação de utensílios como bolsas, malas, cintos, sapato entre outros.

“Eu já estou velho e a qualquer momento não estarei mais por aqui. O meu grande desejo é transferir os conhecimentos e a tecnologia que aprendi e adquiri para que ela não se perca”, afirmou o curtidor, que acredita no potencial econômico do projeto.

Atualmente, Rebello trabalha em casa, onde construiu um “laboratório” para continuar seus testes com as peles de peixes. Embora seja um espaço simples, ele relata que ainda possui forças para continuar. “Eu sempre estou fazendo alguma coisa porque foi através do trabalho com o couro que eu adquiri o sustento da minha família”, disse.

Espécies variadas

De acordo com o José Rebello, o projeto “Couro de Peixe” selecionou cerca de 20 espécies de peixes para produzir couros especiais. Dentre eles, a pele do pirarucu, aruanã, tambaqui e dourada podem ser transformadas em couro de altíssima qualidade. “Mas a região amazônica possui mais de 20 mil tipos de peixes, ou seja, ainda há muita matéria-prima que pode ser testada e utilizada”, comentou.

Uma das preocupações, segundo ele, é o material pode ser melhor reaproveitado, visto que boa parte da produção pesqueira do estado acaba sendo desperdiçada por falta de conhecimento. “São mais de 10 toneladas de peixes jogados fora todos meses. Se o pescador for treinado, ele pode evitar esse desperdício e mais que isso, pode gerar renda com o reaproveitamento da pele do pescado”, defende.

Para o especialista, para que iniciativas como essas possam ir para a frente, é necessário ter mais investimentos do estado no setor.

Rápida geração de emprego e renda

Pensando no setor produtivo e na geração de renda com a transformação de peles de peixes da Amazônia em couro, o pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), José Rebello, aguarda a aprovação de três patentes: uma do couro de bagres (peixe liso), outra de aruanã (peixe de escama) e a terceira de couro de jacaré.

Todas as propostas foram depositadas em 2008 e o pesquisador espera que ainda este ano os produtos sejam patenteados. No entanto, o Inpa informou que a concessão ou não de patentes pode demorar até 10 anos para serem analisadas no Brasil.

Segundo o Instituto, atualmente mais de 70 produtos/processos estão protegidos e são passíveis de serem transferidos e serem produzidos em escala industrial.

Número

Dez toneladas de pescado são desperdiçados pela indústria pesqueira mensalmente, de acordo com o José Rebello. Na opinião dele, se o Estado investir no “Couro de peixe”, além de acabar com o desperdício, ainda será possível gerar emprego e renda.

FONTE: A Crítica.

II Caravana em Defesa do rio Tapajós será realizada em Itaituba

No período de 26 a 28 de agosto de 2016, na cidade de Itaituba, será realizada a II Caravana em Defesa do Rio Tapajós, de seus povos e sua cultura. O evento é uma de realização do Movimento Tapajós Vivo- MTV, Associação Pariri, Grupo de Resistência do Tapajós, Associação de Montanha e Mangabal e Associação Dos Filhos e Filhas de Itaituba (ASFITA). A abertura da programação será ás 17h, na Praça do Cidadão, local da concentração da caminhada que percorrerá as ruas de Itaituba até a orla da cidade, onde haverá além do ato de abertura da Caravana, uma Feira Livre Solidária e Show Regional.

Durante o evento, que será realizado na escola Joaquim Caetano Correia no Centro da Cidade, serão realizadas Conferências “Perspectivas e Desafios Frente aos Grandes Projetos na Amazônia”, com a presença de Dr. Feliciano Pontes, Edna Castro e Pedro Martins. Mesa redonda “Vozes, Resistência e Alianças dos Povos dos Rios”, Com debate aberto para Santarém (Porto do Maicá) Irmã Lurdes, Juara-MT, Oriximiná-Mineração, MAB- Nacional.

Ainda no sábado, 27, será realizado um painel integrado com tema “Visões e Construções do Território Tapajônico”, e uma Noite Cultural Tapajônica, com concurso de artes plásticas, poesia, música, exposição fotográfica e de quadros sobre o Tapajós, mostra de vídeo temáticos sobre as hidrelétricas, portos e mineração e continuidade da feira livre.

No domingo, último dia do evento, haverá mesa de debate, questionamento, apresentação de resultado dos concursos, leitura da carta ao Santo Papa Francisco. Além das definições dos encaminhamentos para construir uma estratégia comum de resistência.

FONTE: RG 15/O Impacto

Lista de peixes ameaçados de extinção no Brasil volta a vigorar

Juíza federal julgou improcedente ação de entidades pesqueiras, que pedem revogação da portaria do Ministério do Meio Ambiente que instituiu a lista de espécies aquáticas ameaçadas de extinção no Brasil e determinou ações para sua proteção — incluindo proibição da pesca de espécies criticamente em perigo, como tubarões e raias

Para ler o texto completo, clique aqui.

FONTE: Texto do Herton Escobar para O Estadão.

20 de jun. de 2016

Políticos do AM pedem revogação da criação de 5 reservas ambientais e 2 terras indígenas

A Casa Civil, da Presidência da República, recebeu, ontem (16) à noite, da bancada federal do Amazonas, no Congresso Nacional, de representantes da Assembleia Legislativa e de produtores amazonenses documento pedindo a revogação dos últimos decretos da presidente afastada Dilma Rousseff, que criaram cinco novas reservas ambientais e mais duas terras indígenas no Estado do Amazonas.

São as áreas de Proteção Ambiental (APA) Campos de Manicoré, a Reserva Biológica (Rebio) Manicoré, o Parque Nacional (Parna) do Acari e as Florestas Nacionais (Flona) do Aripuanã e de Urupadi, além da ampliação da Flona Amana. Somadas, as reservas ocupam 2,83 milhões de hectares, equivalente ao território do Estado de Alagoas. Elas estão localizadas nos Municípios de Apuí, Novo Aripuanã, Borba, Manicoré e Maués. As terras indígenas recém-criadas estão nas cidades de Autazes e Careiro da Várzea.

Os decretos de Dilma foram publicados no Diário Oficial da União, nos dias 11 e 12 de maio deste ano. A presidente foi afastada do cargo, pelo Senado, no dia 13. 

FONTE: A Crítica.

Declaração dos Bispos do Oeste do Pará sobre os impactos dos projetos na Bacia do Tapajós

Eis a declaração.
Nós, Bispos da Igreja Católica do Oeste do Pará, aproveitando nossa participação no Seminário sobre Impactos, Desafios e Perspectivas dos Grandes Projetos na Bacia do Tapajós, nos dias 23 e 24 de maio de 2016, queremos manifestar o nosso apoio a esta iniciativa e partilhar nossas preocupações e reflexões sobre assuntos tão delicados que afetam a vida de forma global e o ecossistema amazônico.
Parabenizamos o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal de Itaituba por ter convocado todos os segmentos da sociedade para um diálogo aberto e transparente. A sociedade civil e todos os órgãos das gestões públicas municipais, estaduais e federais desta rica e bela bacia do Tapajós mereciam esta oportunidade para debater sobre os grandes projetos que se estão implantando na região sem a devida discussão pública e inclusive com violação de direitos constitucionais, como por exemplo: a não realização de consulta prévia, livre e informada às populações indígenas e tradicionais. Trata-se de um modelo de desenvolvimento para região que vem sendo imposto pelo poder central do país sem a devida consulta à população da região, ignorando assim o direito das populações e autoridades locais de decidir o seu próprio desenvolvimento.
Concordamos com os princípios éticos afirmados e defendidos neste seminário, tais como:
· a procura incansável do bem comum e da diminuição da desigualdade sócio-econômica, respeitando a diversidade cultural e ecológica;
· o reconhecimento do direito das populações e autoridades locais de decidir sobre o modelo de desenvolvimento regional;
· o desenvolvimento deve estar centrado no respeito ao ser humano e ao ecossistema que possibilita a vida para todos os seres e não no lucro das empresas e do capital financeiro;
· o reconhecimento de que “somos administradores dos bens da criação” e que “não somos deuses para querermos nos impor às leis da natureza e da vida” (Juarez Munduruku);
· que se tomem medidas efetivas e eficazes para evitar os impactos negativos já acontecidos onde se construiu hidrelétricas e outros grandes projetos;
· que os estudos sobre os impactos sociais e ecológicos abranjam toda a bacia do Tapajós e não só a área a ser inundada por uma hidrelétrica;
· não se submeter aos grandes projetos esperando converter em compensação socioambiental aquilo que o Estado está obrigado a realizar como políticas públicas de educação, de saúde e de preservação ambiental;
· disciplinar e orientar a atividade garimpeira para que se evite que os resíduos sólidos e não sólidos da atividade mineral provoquem consequências desastrosas para vida do ser humano e dos ecossistemas;
· que qualquer intervenção cogitada para a região leve em consideração o muito preocupante cenário das mudanças climáticas globais;
· que os estudos levem em conta a alta presença de metais nocivos na bacia do Tapajós e que com a intervenção humana no ecossistema vão multiplicar os efeitos desastrosos sobre a saúde das populações que aqui moram;
· que o Estado faça respeitar a lei em relação à vida social, mas também que o próprio Estado respeite as leis, especialmente as relativas aos direitos dos povos e comunidades tradicionais – como a consulta prévia, livre e informada – e aos ecossistemas;
· que a Amazônia não mais seja vista como uma colônia do exterior e do próprio Brasil. Por isso, que as riquezas extraídas do solo amazônico sejam convertidas em qualidade de vida para seu povo;
· que se respeite as leis ambientais para os grandes projetos, já enfraquecidas na prática, e não se aprove o Projeto de Lei do Senado nº 654/2015 que visa alterar a Lei 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente e instituir a licença ambiental única e a abolição das audiências públicas.
Esperamos que o respeito a estes princípios éticos possam nortear o desenvolvimento humano socioambiental que se almeja para esta região da bacia do Tapajós.
Lamentamos a ausência de algumas autoridades e de representantes de alguns órgãos governamentais envolvidos diretamente nesta questão. Auguramos que se façam presentes em iniciativas como esta para que não seja “um diálogo para nós mesmos”, mas seja um diálogo da sociedade civil afetada.
Que continuemos empenhados, todos nós, como nos alerta o Papa Francisco, pelo respeito e cuidado da casa comum, que nasce do reconhecimento do mistério e graça da criação e da humildade e bom senso que disto deriva. O próprio Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Sì’ é quem orienta:
“185. Em qualquer discussão sobre um empreendimento, dever-se-ia pôr uma série de perguntas, para poder discernir se o mesmo levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral: Para que fim? Por qual motivo? Onde? Quando? De que maneira? A quem ajuda? Quais são os riscos? A que preço? Quem paga as despesas e como o fará? Neste exame, há questões que devem ter prioridade. Por exemplo, sabemos que a água é um recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o exercício doutros direitos humanos. Isto está, sem dúvida, acima de toda a análise de impacto ambiental duma região.
186. Na Declaração do Rio, de 1992, afirma-se que, «quando existem ameaças de danos graves ou irreversíveis, a falta de certezas científicas absolutas não poderá constituir um motivo para adiar a adoção de medidas eficazes» que impeçam a degradação do meio ambiente. Este princípio de precaução permite a proteção dos mais fracos, que dispõem de poucos meios para se defender e fornecer provas irrefutáveis. Se a informação objetiva leva a prever um dano grave e irreversível, mesmo que não haja uma comprovação indiscutível, seja o projeto que for deverá suspender-se ou modificar-se. Assim, inverte-se o ônus da prova, já que, nestes casos, é preciso fornecer uma demonstração objetiva e contundente de que a atividade proposta não vai gerar danos graves ao meio ambiente ou às pessoas que nele habitam.”
Por isso, convidamos todas as comunidades desta bela e rica região do Oeste do Pará a cumprir com esmero esta responsabilidade social e cristã que é de todos na diversidade de competências e possibilidades.
Que o bom Deus nos abençoe e nos ajude a continuar em diálogo.
Itaituba, 24 de maio de 2016.
Dom Frei Bernardo Johannes Bahlmann, OFM Bispo da Diocese de Obidos
Dom Flávio Giovenale, SDB Bispo da Diocese de Santarém
Dom Frei João Muniz Alves, OFM Bispo da Prelazia do Xingu
Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm. Bispo da Prelazia de Itaituba

FONTE:  IHU On-Line via Amigos da Terra