14 de dez. de 2013

Filtro artesanal de carvão ativado feito com caroços de açaí

Estudante da zona rural de Moju, no Pará, desenvolve filtro artesanal de carvão ativado, feito com caroços de açaí. O projeto foi o vencedor da categoria Ensino Médio do Prêmio Jovem Cientista

Em muitos vilarejos ribeirinhos da Amazônia, a água de beber sai direto do rio para a caneca, sem escalas em qualquer tipo de filtro. Por isso, o índice de doenças de veiculação hídrica é alto e toda família tem pelo menos um caso de internação por diarreia para contar. Mesmo nas pequenas cidades onde há água encanada, a captação é feita diretamente no rio e a água não passa por nenhum tipo de tratamento até chegar às torneiras.

Disposto a mudar essa realidade, um jovem estudante da zona rural do município de Moju, no Pará, Edivam Nascimento Pereira, começou com uma enquete junto a 100 moradores da cidade de Moju, sede municipal, onde vivem cerca de 35 mil habitantes. Segundo descobriu, 40% da população bebe água direto da torneira e os outros 60% usam algum tipo de filtragem ou tratamento caseiro. Destes, 80% passam a água por um pano, apenas para retirar as impurezas visíveis. Outros 18% aplicam cloro e os demais 2% fervem a água ( o que é o procedimento mais indicado).

A partir da enquete e com a orientação do professor de Física e Química, Valdemar Carneiro Rodrigues Júnior, da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Ernestina Pereira Maia, o estudante desenvolveu e testou um filtro artesanal de carvão ativado, feito com caroços de açaí (Euterpe oleracea).“A região toda tem açaí demais. E muito caroço sobrando. É uma região onde o açaí é nativo e mesmo quem não vende, despolpa o açaí de modo artesanal e consome em casa”, diz Edivam Pereira. “E, onde existe comercialização, os caroços são jogados no mato, são tratados como resíduo, só a polpa segue para as cidades”.

A boa ideia – de transformar um resíduo disponível nas comunidades isoladas em um filtro eficiente para a água de abastecimento – rendeu ao estudante o primeiro lugar da categoria Ensino Médio, no XXVII Prêmio Jovem Cientista, cujo tema, este ano, era “Água: Desafios da Sociedade”. Organizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação Roberto Marinho, a Gerdau e a GE, o prêmio será entregue pela presidente da República, Dilma Rousseff, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, em Brasília, no próximo dia 16 de dezembro.

É um belo presente de aniversário para Edivam Pereira, que completa 20 anos 4 dias após a cerimônia. Mas é, sobretudo, um incentivo para prosseguir com o projeto e tornar o filtro artesanal realmente disponível para as comunidades ribeirinhas. Junto com seu professor, o estudante agora está testando garrafas PET para funcionar como vela, o recipiente onde é colocado o carvão ativado, dentro do filtro. Se forem bem sucedidos, os dois poderão espalhar boa saúde através da água de beber para muitos moradores das margens do rio Moju e de outros tantos rios pontilhados por palmeiras de açaí, Amazônia adentro.

“O caroço de açaí já tem em toda a região e a soda cáustica, usada para ativar o carvão, também é fácil de comprar em supermercados locais, eu mesmo comprei aqui perto, para fazer os testes”, conta Edivam. “As velas que usamos da primeira vez foram as tradicionais, de barro, mas elas teriam de ser compradas, então pensamos em substituir por garrafas PET de água mineral, de 300 ml, que podem ser recicladas”.

Depois de fazer os testes, inclusive da qualidade final da água, em laboratório, o aluno e o professor pretendem organizar cursos para ensinar os ribeirinhos a fabricar seus filtros caseiros. “Não vamos fazer manuais, preferimos fazer oficinas e mostrar como se monta o filtro”, conclui. Os primeiros da fila serão os moradores de uma comunidade chamada Jupulbinha, de 300 habitantes, também no município de Moju.


FONTE: Viaje aqui Brasil. 

 

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