29 de jan. de 2013

Dom Erwin Klautler recebe título de Doudor Honoris Causa


O bispo da prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler receberá o título de doutor honoris causa em reconhecimento a sua trajetória de vida em favor dos direitos humanos e das causas indígenas na Amazônia. O prelado, que já tem seis títulos concedidos por outras instituições de dentro e fora do País, receberá a homenagem da UFPA em ato formal em Belém, e, em ato simbólico, a ser realizado também no município de Altamira.
 
FONTE: Xingu Vivo Para Sempre, aqui.

Concurso forma alunos embaixadores da Amazônia

Que a maioria dos jovens está conectada à internet, isso é inegável. Mas o modo como ela é usada por eles é o grande X da questão. Pensando em como aproveitar a interatividade para fazer com que meninos e meninas disseminem mensagens sobre melhores práticas de conservação ambiental, foi lançado o Prêmio Jovem Conservacionista.

O concurso pretende identificar e incentivar jovens de 15 a 19 anos, moradores da zona rural da Fronteira do Desmatamento da Amazônia – região também conhecida como Arco do Desmatamento, considerada uma das mais desmatadas do país, passando pelo Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre –, para que se tornem embaixadores da Amazônia tanto por meio do uso das tecnologias de informação e comunicação, sobretudo via Facebook e Twitter, quanto por encontros presenciais para explicar a outros jovens como fazer manejo e uso sustentável dos recursos naturais.

Para saber mais, clique aqui.

FONTE: Porvir.org

20 de jan. de 2013

Indígena ocupa cargo de professor na UFPA


Com a intenção de promover o multiculturalismo, a Universidade Federal do Pará (UFPA) empossou, pela primeira vez, um indígena que passa a ocupar o cargo de professor efeitvo da Instituição. William Dominguez, pertencente à etnia Xacriabá, adotada pelos Assurini, assumiu nesta sexta-feira, 18, na Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (Progep), o cargo de professor da disciplina Antropologia da Saúde, do curso de Etnodesenvolvimento, do Campus de Altamira.
Formado no curso de Pedagogia da UFPA, William Dominguez já foi presidente do Conselho de Saúde Indígena e, atualmente, é vice-presidente. Ele conta que é uma honra poder assumir o cargo, uma vez que considera o fato como uma “tentativa da Instituição de abrir as suas portas para o meu povo. Tentar fazer da Universidade uma multiversidade, que representa todos os nossos anos de luta e a nossa trajetória dentro dos movimentos sociais pelos direitos dos povos indígenas. Como professor da UFPA, quero poder auxiliar na formação do meu povo, porque, há algum tempo, entendemos que precisamos lutar com armas diferentes: com caneta, papel e nosso discurso, que aprendemos na academia”.
Boas-vindas – O pró-reitor de Extensão, professor Fernando Arthur Neves, representou o reitor Carlos Maneschy e deu as boas-vindas ao professor William. “A nossa universidade ganha no sentido de se tornar mais completa, na medida em que incorpora diferentes experiências e ruma para se tornar uma sociedade multicultural. É uma experiência recente no Brasil, mas fundamental para que tenhamos a oportunidade de conhecer e ampliar o significado que temos do conceito de humanidade”, afirma o pró-reitor.
Gratificação – A antropóloga Jane Beltrão, que foi professora de William, conta que é muito gratificante vê-lo assumindo o cargo. “Acho que isso representa outro patamar. Temos, agora, um colega que pode, de alguma maneira, trabalhar com outras epistemologias, as quais não temos condições de trabalhar. Ele vai trabalhar com a epistemologia indígena, enquanto nós trabalhamos com a epistemologia que aprendemos na academia. Então, com isso, a proposta do curso de Etnodesenvolvimento em Altamira é que trabalhemos juntos, ele e eu, na mesma sala de aula”, explica a professora Jane.
“Espero não ser o único professor indígena, mas o primeiro de outros que virão, para trazermos um pouco das nossas culturas, que são muitas. Enriqueceremos a Universidade e teremos, de fato, acesso à educação, que deve formar todos os brasileiros”, ressalta o professor William Dominguez.


FONTE: Texto de Paloma Wilm – Assessoria de Comunicação da UFPA, imagens de Alexandre Moraes, disponível aqui.

14 de jan. de 2013

Ciclistas cruzam a Transamazônica para analisar urbanização da floresta

Três brasileiros começam neste domingo jornada entre o Pará e Amazonas. Dados coletados vão comparar região atual com a de 20 anos atrás.

Texto de Eduardo Carvalho Do Globo Natureza, em São Paulo

  (Foto:  )
Três brasileiros começam neste domingo (13) a percorrer de bicicleta trechos da rodovia Transamazônica (BR-230), que corta a Amazônia e liga os estados da Paraíba ao Amazonas, com o objetivo de avaliar o impacto da expansão urbana e das obras de infraestrutura realizadas em diversas cidades da Região Norte.

A viagem chamada “Transamazônica+20” é uma reedição de uma jornada realizada há 20 anos por três universitários, que pedalaram durante 51 dias entre Marabá (PA) e Lábrea (AM), um percurso de 2.500 km pela estrada, com o objetivo de conhecer um Brasil que, na época, era considerado esquecido.

Osvaldo Stella Martins, 44 anos, diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) é o único do grupo a refazer a viagem.
Alexandre Walter, que integrou a primeira equipe, não pode acompanhar por compromissos profissionais e familiares; já o alpinista Vitor Negrete morreu em 2006, aos 36 anos, durante uma expedição ao Monte Everest.

Segundo Martins, a expedição pela Transamazônica foi marcante ao ponto de alterar sua trajetória de vida. “Todo mundo ouvia falar da região amazônica, mas pouca gente conhecia o que de fato era. Para mim foi extremamente marcante, ao ponto de, então estudante de engenharia mecânica, seguir mais para o viés ambiental”, disse ele, que fez doutorado em Ecologia e trabalha com assentamentos de reforma agrária na região da Amazônia.

Com a participação de Rodrigo Zarnella, também do Ipam, e Magno Botelho, da ONG Iniciativa Verde, o grupo pretende coletar dados sobre o desmatamento da floresta, índices de desenvolvimento humano das cidades, além de ouvir personagens que sobreviveram ao desenvolvimento da região nas últimas duas décadas.
Na primeira foto, feita em 1992, grupo pioneiro de ciclistas que percorreu cerca de 2.500 km da rodovia Transamazônica. Na segunda imagem, a nova formação do grupo: (da esquerda para a direita) Osvaldo Stella, Rodrigo Zanella e Magno Botelho (Foto: Divulgação) 
Na primeira foto, feita em 1992, grupo pioneiro de ciclistas que percorreu cerca de 2.500 km da rodovia Transamazônica. Na segunda imagem, a nova formação: (da esquerda para a direita) Osvaldo Stella, Rodrigo Zanella e Magno Botelho (Foto: Divulgação)
 
Os ambientalistas vão percorrer o trecho em três fases. Inicialmente, as bicicletas andarão os 560 km que separam Marabá de Altamira, ambas cidades do Pará. Em junho e outubro, a expedição percorrerá outros dois trechos que, somados, totalizam 980 km.
“O objetivo é fornecer um olhar diferente, que possa contribuir para o entendimento mais amplo da sociedade brasileira em relação à Amazônia”, explica Martins.

“Queremos responder com a viagem algumas perguntas sobre o impacto de investimentos na região, como a usina de Belo Monte. Queremos saber qual o legado desse empreendimento na região e entender [...] como isso contribui para o meio ambiente, para a economia e qualidade de vida das populações locais”, explica.
Detalhes da viagem podem ser conferidos no blog mantido pela equipe. Para acessá-lo, basta clicar aqui.

Para ler mais notícias do Globo Natureza, clique em g1.globo.com/natureza. Siga também o Globo Natureza no Twitter.
Imagens mostram estado da rodovia Transamazônica entre 1992 e 1993 (Foto: Divulgação) 
Imagens mostram estado da rodovia Transamazônica entre 1992 e 1993 (Foto: Divulgação)
 
FONTE: Daqui.

11 de jan. de 2013

Arpa lança editais voltados para integração comunitária

Brasília (09/01/2013) – No âmbito do Subcomponente 2.3, de integração das comunidades, o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) lançou na última segunda-feira (7), dois editais de chamada de propostas para integração comunitária: o de Planos de Ação Sustentáveis (PAS) e o de Planos de Ação dos Povos Indígenas (PPI). O objetivo é promover a articulação e o fortalecimento institucional das organizações comunitárias e das comunidades residentes em unidades de conservação (UC) apoiadas pelo Arpa, ou que dela sejam usuárias.

O subcomponente 2.3 visa a utilização sustentável dos recursos naturais nas Unidades e o objetivo dessas chamadas, desenvolvidas pelo Arpa, é convidá-las para apresentarem propostas de Planos de Ação Sustentável e Planos de Ação dos Povos Indígenas para o período 2013-2014. Serão beneficiadas comunidades tradicionais habitantes em unidades de conservação federais e estaduais ou delas usuárias, que serão favorecidos com os PAS e povos indígenas cujos territórios tenham interface com unidades de conservação federais e estaduais, que possuam alguma relação com as mesmas, como utilização de áreas de importância sócio-cultural, de realização de atividades produtivas e de proteção territorial, que serão, por sua vez, beneficiados com os PPI.

Para cada unidade de conservação, o edital aportará o valor referencial de R$ 190 mil. Para o biênio 2013-2014, serão contempladas 19 unidades de conservação, cujas propostas de PAS e PPI tenham sido selecionadas. Para se candidatar aos editais, os formulários e demais documentos de apoio relativos à inscrição deverão ser enviados por correio postal, incluindo cópia digital de todos os documentos em um CD anexo, devidamente atestados e assinados pelo órgão gestor proponente, até 8 de abril de 2013.
A documentação deverá ser enviada para:

Marco Bueno (Programa Áreas Protegidas da Amazônia – Arpa)
Departamento de Áreas Protegidas – Secretaria de Biodiversidade e Florestas
Ministério do Meio Ambiente - Edifício Marie Prendi Cruz, SEPN 505 Norte Bloco B – 4º andar, sala 405 CEP 70730–542 - Brasília/DF

Para maiores informações, enviar mensagem eletrônica para o e-mail marco.bueno@mma.gov.br ou ligar para (61) 2028 2064.

Os Editais
Abaixo, disponível o download dos arquivos relacionados às chamadas. Para cada proposta, deve ser baixado o edital 1 e a planilha Excel ou o edital 2 e a planilha Excel.

Edital 1 - Arpa - Planos de Ação Sustentáveis
Edital 2 - Arpa - Planos de Ação Povos Indígenas
Planilha Orçamentária e Cronograma Planos de Ação
Fonte: Programa Arpa, disponível aqui.

Indigenas e internet

O que os indígenas têm a dizer
Se houver uma apropriação adequada da tecnologia, internet articula saberes entre povos nativos e sociedade urbana.
Áurea Lopes

QUANDO um computador chega a uma aldeia, esse “objeto não indígena” não pode ser apresentado à comunidade como uma “invasão” do homem branco. Por isso, a organização política de cada grupo tem papel determinante no curso e no destino dos projetos de inclusão digital. Essas são algumas conclusões resultantes das observações do antropólogo belga Nicodème de Renesse, que fez sua dissertação de mestrado sobre o uso da internet e da comunicação entre os ameríndios no Brasil.
entrevista o que os indigenas tem a dizer
O pesquisador, que organizou em 2010 o Simpósio Indígena sobre Usos da Internet no Brasil, realizado pelo Centro de Estudos Ameríndios (Cesta) da Universidade de São Paulo, chama atenção para a ação dos agentes externos que facilitam o acesso dos índios às tecnologias da informação e da comunicação. “Se você vai lá, instala as máquinas e vai embora, não acontece nada”. Depois disso, diz ele, ainda tem um caminho difícil no convencimento dos mais velhos pelos jovens, que dominam as ferramentas.

De que forma os indígenas usam a internet?
Nicodème de Renesse – Nós vemos que os índios estão assumindo e reivindicando uma participação na sociedade cada vez maior. Eles vão para a universidade, ocupam cargos políticos e também utilizam os meios de comunicação eletrônica para tecer relações para além do grupo. Na minha tese, em 2010, eu fiz um levantamento parcial que apontou a existência de 111 pontos de acesso à internet em aldeias indígenas, a maioria instalada após 2007, principalmente em escolas e organizações comunitárias. Algumas comunidades dispõem da internet nas sedes de suas associações nas cidades, ou em repartições administrativas que ficam em seus territórios.

Os baniwas, por exemplo, que vivem na fronteira com a Colômbia, no alto Rio Negro, utilizam laptops para se conectar à rede pelas antenas dos pelotões do exército. Meu estudo abrangeu os sites de conteúdo indígena. Não cheguei a estudar as redes sociais, mas vi que os povos indígenas usam muito as redes, fazem contato, namoram e se casam com integrantes de outras tribos que conheceram nas redes sociais. Uma das mais expressivas lideranças dos suruís, Almir Suruí, de Rondônia, se casou com uma xukuru-kariri que conheceu no Orkut.

O que você observou em sua pesquisa sobre conteúdos de sites indígenas?
Nicodème de Renesse – Em geral, na sociedade não indígena, os meios de comunicação tendem a tratar os índios como indivíduos diferentes. Em um primeiro momento, achamos que eles iam usar a internet para isso, para mostrar como são diferentes. Mas não. Eu constatei que no projeto de comunicação dessas pessoas está a tendência oposta, de mostrar que os problemas são fundamentalmente os mesmos em todas as sociedades. Eles têm pontos de vista diversos sobre problemáticas conexas ou complementares às nossas, não indígenas. O que os índios sabem tem validade, tem importância para a sociedade não indígena. O discurso desses povos na rede indica que são sujeitos na relação; não são apenas seres exóticos, mas pessoas que têm alguma coisa a dizer, a colocar, a trocar. E para essa troca precisam fazer o que eu chamo de articulação do conhecimento, precisam mostrar que o que eles sabem é pertinente em termos não indígenas.


Essa troca com o mundo externo não desqualifica os saberes nativos?
Nicodème de Renesse – Isso é uma luta de cada comunidade. Há situações muito diferentes de um grupo para o outro. Mas, acima de tudo, depende fortemente de os colaboradores externos apontarem os caminhos, darem as chaves para o uso adequado das ferramentas tecnológicas. E depois vem outra etapa a ser vencida, que é um processo de negociação dentro da comunidade, para o grupo entender que realmente tem alguma coisa importante a se fazer com essas ferramentas. Mas o principal é a primeira abordagem pelos terceiros, pelos atores não indígenas, que são fundamentais nesse processo. A qualidade da reflexão que eles propõem ao levar um programa de inclusão digital às comunidades, a forma como introduzem os conceitos e as atividades é fundamental. Se você vai lá, instala as máquinas e vai embora, não acontece nada.

Os programas públicos de inclusão digital atendem a necessidade específica dos indígenas?
Nicodème de Renesse – Em geral, não. Todo o conhecimento em circulação sobre a relação dos índios com as novas tecnologias é produzido por terceiros, por protagonistas exteriores aos grupos e cuja percepção é orientada pelas próprias motivações. As populações atendidas ocupam uma posição completamente marginal na elaboração de conhecimentos sobre a inclusão digital que lhes diz respeito.

A aculturação para o uso da tecnologia é fácil entre as comunidades?
Nicodème de Renesse – Bem, temos de lembrar que o computador é um objeto não indígena. Para nós, não indígenas, é fácil compreender o que é um computador, imaginar como funciona uma máquina desse tipo. O computador tem uma série de conhecimentos embutidos, que a gente assimila com naturalidade, não questiona. Entre os indígenas, perceber que aquilo é uma ferramenta e pode ser apropriada para determinados fins, que pode interessar à comunidade, é um longo caminho, muito difícil. Quando a tecnologia chega a uma aldeia, a organização política de cada grupo tem papel determinante no curso e no destino dos projetos de inclusão digital. Os casos variam, mas em linhas gerais observei duas tendências. A primeira: nos grupos desprovidos de plano de governança que incluam uma gestão dos meios de comunicação, a internet se limitou a preencher a agenda externa dos parceiros de projetos. Ou seja, se chocou com a organização do grupo, gerando conflitos. As lideranças tradicionais viram o instrumento nas mãos dos jovens como uma ameaça para sua autoridade, para a ordem social e para o próprio grupo. No Simpósio realizado na USP, os relatos das experiências dos povos ikpeng, kuikuro, xakriabá, entre outros, vimos a internet na comunidade reduzida a um contexto formal, geralmente relacionado a atividades escolares ou administrativas, o que parece render poucos benefícios. Aí a tecnologia desperta desconfiança ou hostilidade por parte das gerações mais velhas.

Como seria uma apropriação adequada da ferramenta pelos indígenas?
Nicodème de Renesse –  Nas aldeias onde a comunicação faz parte de um projeto político, houve a busca de um consenso para que o novo instrumento estivesse a serviço das decisões e do projeto político do grupo, fortalecendo os papéis de liderança e, na opinião da comunidade, o próprio grupo. É o que acontece entre os suruís ou entre os kaiowás da aldeia te’yikues. A internet se torna uma plataforma de atuação e relacionamento importante para o grupo. E é muito bem recebido  por isso. Os suruís, por exemplo, perceberam que a rede servia de suporte e veículo para os conhecimentos e, portanto, constituía um conhecimento tipicamente agregador, somando-se aos outros e a serviço deles. A ideia por trás disso é de que, preservar a cultura indígena é adquirir o que é novo e juntar ao restante para ampliá-lo.

Por que há resistência das velhas lideranças?
Nicodème de Renesse – A questão de fundo é que, na cultura indígena, anciões detêm o conhecimento sobre as coisas do mundo. Mas, hoje, são os novos que detêm o conhecimento da tecnologia e estão empoderados com a capacidade de atuar na relação com a sociedade não indígena, que é fundamental. Então, nos casos em que há um entrosamento, onde os jovens tentam incluir os mais velhos e criam um consenso para em conjunto estabelecer um projeto de comunicação, aí funciona a apropriação da tecnologia. Ao contrário, se os jovens não incluem os mais velhos, não há consenso, não há projeto de comunicação. O uso da internet fica individual. E sofre resistência. No Simpósio da USP, um jovem do Xingu disse que as lideranças mais velhas “têm medo” do avanço da tecnologia, da forma como os jovens vão usar a internet, e por isso proíbem o acesso na aldeia. Por conta disso, reforço, é importante a forma como o programa de inclusão é introduzido por agentes externos na comunidade, e, em seguida, a forma como os jovens levam o programa para as  lideranças mais velhas.

O receio é em relação às redes sociais?
Nicodème de Renesse – Também, mas não apenas isso. Em relação às redes sociais, o problema é o uso individual e impermeável da tecnologia. O uso não aproveitado pelo grupo, em que os jovens criam relações fora e se desvinculam da comunidade. O receio maior é de que o índio não pertença mais à comunidade, se desligue. Mas não se trata de um desligamento físico e sim do conhecimento, da cabeça. Se o jovem tem várias relações externas, passa horas no computador, aos poucos vai se desfazendo da comunidade e isso sim é ruim. De outro lado, se as relações são para agregar, aí são benéficas. Porque a cultura é o que você consegue absorver do que vem de fora. A gente interpreta a cultura como uma coisa de dentro, mas na verdade vem de fora. Nossos números, por exemplo, são árabes... Para os índios, a cultura é o que eles conseguem agregar, o que vem do mundo não indígena. A cultura se transforma, é uma característica dos indígenas. Às vezes você percebe uma absorção de coisas externas e pensa que está indo tudo água abaixo e no fundo é a maneira deles de se apropriarem das coisas.

Mas há outro tipo de questão. Por exemplo, um caso que aconteceu com os ikpengs. No museu de Goiânia, há registros de toda a história desse povo, desde o contato, em 1964, até a transferência para o Xingu. De acordo com a tradição deles, não é permitido ver imagens dos familiares que já morreram, eles dizem que não pode ficar “nenhuma lembrança”. Só que muitas fotos foram postadas no site do museu, o que gerou um verdadeiro drama na comunidade. Os velhos não admitiam essa violação à sua cultura. Outra situação curiosa que resultou do acesso à internet, também com os ikpengs, foi que, quando colocaram internet nas escolas, os indígenas fizeram pesquisas na rede sobre eles mesmos. E encontraram uma banda de música chamada ikpeng. Isso causou uma enorme polêmica porque foi considerado um roubo do nome, ofensa gravíssima entre eles. E os velhos acabaram culpando os jovens por expor a imagem e o nome do grupo pelo mundo. Para reverter esse sentimento, foi muito difícil.

Você pode citar experiências em que haja o uso adequado da ferramenta?
Nicodème de Renesse – Os próprios ikpengs, superando o trauma inicial, desenvolveram um trabalho muito interessante. Deram uma verdadeira virada no jogo. Têm um site onde apresentam de forma resumida, de fácil compreensão, bastante rica e panorâmica, o que são os ikpengs ou, mais exatamente, o que eles querem que saibamos que são. [Ver reportagem Guerreiros ikpeng em defesa de sua cultura, ARede, edição 86, novembro de 2012]. Outro destaque é para os suruís, que estão construindo um mapa multimídia de seus territórios, em parceria com o Google e a organização não governamental Equipe de Conservação da Amazônia. E muitos outros: o blog Coletivo Kuikuro de Cinema, o site da Hutukara Associação Yanomami, o site oficial dos paiter-suruís.

Como é a questão de infraestrutura e manutenção nesse universo, onde as condições geográficas são tão desfavoráveis?
Nicodème de Renesse – Pois é, introduzir internet em área indígena não é como introduzir internet na periferia urbana. Para começar, o transporte dos equipamentos é muito caro. Vamos pegar o exemplo do Xingu, que é de grau médio de dificuldade. É preciso fretar um barco para descer o rio Xingu até o limite do Parque Indígena, o que gasta em torno de trezentos litros de gasolina. Desse ponto, são mais 450 quilômetros até a cidade de Canarana, em transporte particular. Em 2010, o trajeto entre uma aldeia do médio Xingu e Canarana, ida e volta, custava em torno R$ 1,8 mil. A situação ainda é mais complicada na região Norte, onde vive metade da população indígena do país. Para ir até o povoado de Iauaretê, onde funciona o Centro de Inclusão Digital da Fundação Bradesco, por exemplo, você precisa fretar um barco que sai da cidade de São Gabriel da Cachoeira, localizada a 850 quilômetros de Manaus. De São Gabriel, vai mais um dia e meio pra subir o rio Uaupés. O administrador do Centro contou, no Simpósio da USP, que para chegar ao povoado tem de embarcar, chegar a uma cachoeira intransponível, desembarcar, embarcar de novo, chegar à aldeia e desembarcar. Então, esses equipamentos, que são frágeis, acabam se danificando. Segundo ele, enviam seis equipamentos e só chegam dois ou três em bom estado. Outra dificuldade é a formação dos monitores. Se precisa de uma semana pra formar um monitor de periferia ou de área rural, com os indígenas você leva muito mais tempo. E isso os programas não pensam. Esses agentes de inclusão são fundamentais. Os kuikuros, por exemplo, receberam um telecentro que não durou 24 horas. Sem saber, ligaram errado e queimaram todas as máquinas. Ou então, receosos de estragar, os índios não mexem e os equipamentos ficam abandonados, como aconteceu com os guaranis da aldeia Sapukai, em Angra dos Reis (RJ). Por tudo isso, os programas de inclusão digital só dão certo quando há um parceiro local, que tem trânsito na comunidade, compromisso de longo prazo com a comunidade. entrevista o que os indigenas tem a dizer02

Nicodème de Renesse é antropólogo, nascido na Bélgica. Está no Brasil há 14 anos e defendeu, na USP, a dissertação de mestrado intitulada Perspectivas indígenas sobre e na internet: ensaio regressivo sobre a construção e o uso da comunicação em grupos ameríndios do Brasil

FONTE: ARede nº 87 - dezembro de 2012, disponível aqui.

8 de jan. de 2013

Prêmio “Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável” recebe inscrições até 1º de fevereiro


 
02/01 - Prêmio “Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável” recebe inscrições até 1º de fevereiro
Inscrições podem ser feitas pelos Correios e pela internet

Trinta grupos e organizações produtivas ganharão troféus e as dez experiências mais pontuadas receberão R$ 20 mil. Inscrições começaram a ser aceitar em 19 de dezembro

Experiências de grupos e organizações produtivas do campo e da floresta serão reconhecidas pelo Prêmio “Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável”. Organizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), o concurso destacará 30 iniciativas com o troféu “Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável”. As dez experiências, que obtiverem maiores pontuações, receberão R$ 20 mil cada uma.

A premiação pretende dar visibilidade ao trabalho das mulheres do campo e da floresta, por meio de suas organizações produtivas, no fortalecimento da sustentabilidade econômica, social e ambiental, e geradoras da segurança e soberania alimentar no País. Foca na produção e na disseminação de conteúdos que subsidiem o fortalecimento da Política Nacional para as Mulheres com participação e controle social.

“Esse prêmio vai reconhecer parte significativa do trabalho que as mulheres fazem para que o Brasil seja um país sustentável. Com isso, precisamos avançar no debate sobre políticas públicas para a igualdade de gênero no campo e na floresta”, explica a secretária de Avaliação de Políticas e Autonomia Econômica das Mulheres da SPM, Tatau Godinho.

As inscrições começaram a ser aceitas em 19 de dezembro e terminarão em 1º de fevereiro, pelo endereço eletrônico premio.mulheresrurais2013@spmulheres.gov.br ou pela via postal para: Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM-PR) – Prêmio “Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável”, Via N1 Leste s/nº, Pavilhão de Metas, Praça dos Três Poderes, Zona Cívico-Administrativa, CEP: 70.150-908, Brasília-DF.

Poderão ser inscritas trajetórias e experiências que se destacam pela viabilidade econômica, social, cultural e ambiental de grupos de mulheres que integram organizações produtivas, associações e/ou cooperativas. É necessário que essas instituições sejam compostas por um mínimo de 70% de mulheres e tenham presença feminina na direção geral. A cerimônia de entrega da premiação acontecerá em 8 de março de 2013, Dia Internacional da Mulher, em Brasília.

Realizado pela SPM, o concurso tem como parceiros o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Social (Seppir) e o Banco do Brasil.

Acesse aqui o edital Prêmio “Mulheres Rurais que Produzem o Brasil Sustentável” publicado no Diário Oficial da União.
FONTE: Daqui.