2 de out. de 2017

Lideranças do povo Munduruku estão dando continuidade ao mapeamento de seu território no Rio Tapajós

Lideranças do povo Munduruku realizam mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu. Foto: Greenpeace
Qual a história que conta um mapa? O que ele revela? O que existe em um território para além do que o olhar comum pode ver? Lideranças do povo Munduruku do Alto e do Médio Tapajós percorreram, em agosto, o território Daje Kapap Eypi, conhecido como Terra Indígena Sawré Muybu, para mapear e registrar os lugares importantes para a vida da tribo, destacando especialmente os locais que estão ameaçados pela construção de hidrelétricas.

A iniciativa pretende mostrar os impactos negativos que podem ser causados pelas barragens previstas para a região, além de fortalecer a demarcação do território - que está parada no Ministério da Justiça - garantindo assim a terra e o futuro do povo Munduruku.

“A gente conhece a nossa terra, mas faltava fazer o mapeamento com todo o conhecimento que nós temos dela. É muito importante mostrar os castanhais, os animais, o rio, os lugares importantes para nossa vida”, explica Juarez Saw Munduruku, cacique da aldeia.

O levantamento revelou a realidade do Rio Tapajós e seu entorno, registrando as histórias do povo e mostrando os lugares onde eles extraem os alimentos da floresta, garantindo a continuidade da vida no local. Assim, eles contestam a visão do governo, que trata a região como um enorme deserto verde a ser explorado a qualquer custo, passando por cima dos direitos dos povos que habitam o local.

“Na maioria das vezes, os mapas elaborados pelo Estado não consideram os conhecimentos da população local e tratam a região como se fosse um grande vazio. Assim, eles planejam projetos dentro do território sem considerar a importância desses lugares para o povo indígena”, explica Thiago Cardoso, antropólogo que assessorou o mapeamento.

Para Cardoso, o Tapajós não é um vazio e a sua destruição afetaria todos as vidas que habitam seus ecossistemas. “Por isso, o mapa elaborado pelos Munduruku é uma forma de se contrapor à visão do governo e dos empreendimentos hidrelétricos, minerários e de infraestrutura, trazendo a realidade do conhecimento indígena sobre a diversidade ambiental e seus lugares sagrados, valorizando e fortalecendo assim a luta deste povo para proteger seu território”.

O mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu teve início em julho de 2016 e foi retomado agora. “Mais do que um mapa, esperamos gerar um grande processo de debate capaz de expressar para a sociedade nacional o valor desse território para a vida do povo Munduruku e contribuir para aprofundar a relação deles com a terra”, afirma Danicley de Aguiar, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.

O processo de reconhecimento continua paralisado no Ministério da Justiça, embora todos os prazos legais previstos para a manifestação tenham vencido em novembro de 2016. Os planos de construção de hidrelétricas na Bacia do Tapajós e de outros projetos de infraestrutura que ameaçam a floresta e a população da região continuam bloqueando a demarcação do território, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.

FONTE: Greenpeace, disponível também aqui.

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