27 de nov. de 2010

Para entender melhor essa história de hidrelétricas no Tapajós

O conto das usinas plataforma, ou como construir represas com helicópteros
Um dos principais argumentos esgrimidos pelo governo para justificar a construção do complexo Tapajós é que este será construído com impacto ambiental praticamente nulo. O termo “usina plataforma” é invocado por todos os envolvidos, até um vídeo promocional foi feito, aonde só é possível apreciar bonequinhos felizes, peixes saltitantes e árvores miraculosamente recompostas, mas não vemos nenhum detalhe técnico o revolucionário conceito.

Por quê? É simples: as usinas-plataforma só existem no mundo do marketing. Alguma cabeça brilhante em Brasília determinou que a melhor forma de fazer que a opinião pública engolisse a construção de cinco usinas hidrelétricas em reservas federais na Amazônia era associar essas usinas a um conceito conhecido e, até poucos dias, sem conotações negativas. A plataforma de petróleo inspira sucesso, segurança, progresso, e na visão de um leigo, se a Amazônia é um oceano verde, porque não usar plataformas para tirar os seus tesouros sem fazer estrago, como a Petrobras faz?. Os trabalhadores serão levados em helicóptero da cidade ao canteiro e pronto! Maravilha!

Algumas considerações parecem oportunas para desvendar a balela das plataformas na floresta. Vamos lá:

•Uma plataforma de petróleo alberga normalmente 30 pessoas. Um canteiro de construção de uma usina hidrelétrica de grande porte pode exigir a presença de entre 2.000 e 10.000 pessoas. Haja plataforma. Haja helicópteros.

•As usinas não vão ser feitas no meio do mar, vão ser feitas na floresta. A construção e manutenção de estradas de acesso é indispensável para possibilitar o acesso de maquinaria pesada. Assim, todos os empreendimentos vão ter estradas de acesso às duas margens do rio. Inclusive aqueles construídos em locais remotos, no coração de reservas federais consideradas como intangíveis na nossa Constituição Federal.

•Segundo a Eletrobrás, não vai existir vila operária. Os trabalhadores vão dormir no canteiro (onde?) até a sua remoção às suas cidades de origem, mediante helicóptero e avião. Não estamos falando de 30 pessoas, estamos falando de um mínimo de 2.000 pessoas. Qual é o custo operativo desse delírio? Na elaboração dos OPE’s (orçamentos finais) das usinas do complexo, não existe nenhuma menção a esses custos. Alguém pensou seriamente na implementação prática desta idéia?

•No inventário da Eletrobrás consta que as quantidades astronômicas de concreto necessárias para a construção das barragens (a UHE São Luiz vai precisar de 800.000 toneladas, como mínimo) vão ser feitas a partir de material local, distante poucos quilômetros do local a ser represado. Qual vai ser o impacto dos trabalhos de extração de rocha, areia, argila sobre o meio ambiente local? A Eletrobrás pretende licenciar grandes canteiros de extração de material de construção dentro de Parques Nacionais?

•Contrariamente ao exposto pela Eletrobrás, a floresta não se recupera de forma mágica. O tempo de recuperação de uma floresta em estágio clímax de desenvolvimento é medido em dezenas de anos. Árvores de grande porte (castanheiras, angicos, sumaúmas) podem demorar mais de 100 anos para atingir a sua altura máxima. Caso os empreendimentos sejam realizados, os impactos na floresta circundante serão mais duradouros do que a vida útil das usinas.

•Não parece sério aplicar um conceito sem validação nenhuma, sem projeto-piloto, sem consistência técnica numa das regiões naturais mais ricas do Brasil. Corre-se o risco de perder para sempre o potencial turístico, a riqueza intangível, os infinitos recursos vindos da biodiversidade em prol de uma falsa idéia de desenvolvimento, transmitida mediante mentiras e jogadas de marketing eleitoreiro.

Esperamos que depois da leitura destas simples reflexões você não se deixe enganar: usina-plataforma é balela!

FONTE: Postado no site Tapajoslivre.org, entre aqui.

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