O pesquisador José Eli da Veiga, do Instituto de Relações Internacionais da USP, criticou nesta quarta-feira (7) um trecho do chamado “rascunho zero” da Rio+20: o esboço do documento principal que possivelmente vai ser um dos resultados da conferência. O trecho criticado trata das limitações do PIB (Produto Interno Bruto) como um indicador de bem-estar dos países. Ele classificou o texto, que servirá de base para o documento final da conferência sobre desenvolvimento sustentável, de “inepto”.
Para Eli da Veiga, o rascunho falha ao propor “indicadores complementares ao PIB que integrem as dimensões econômica, social e ambiental de um modo balanceado”.
“Não se trata de complementar, se trata de se livrar do PIB”, disse o pesquisador. “Já quando ele foi concebido se dizia que não poderia ser um indicador de bem-estar.” Muitos cientistas consideram que, no contexto atual de mudanças climáticas e perda acelerada da biodiversidade, é preciso que governos e empresas levem em conta outros fatores além da riqueza econômica produzida. Com isso, o PIB foi colocado em xeque.
Eli da Veiga defende que as discussões na Rio+20 levem em consideração o trabalho desenvolvido pela Comissão para Mensuração da Performance Econômica e do Progresso Social, criada em 2008 por iniciativa do governo francês. Conhecido por “comissão Stiglitz-Sen-Fitoussi” devido ao nome de seus coordenadores, esse grupo propôs outras formas de medir o desenvolvimento das nações que não o PIB.
Entrariam na conta a renda líquida disponível em cada domicílio; um índice de desenvolvimento humano mais amplo do que o atual IDH, incorporando também questões como segurança pública e segurança econômica; e um indicador que medisse os impactos ambientais, como por exemplo as emissões de carbono e o consumo de água.
Isso permitiria aos países avaliar de forma mais completa as consequências dos seus padrões de consumo e produção sobre suas populações e sobre o planeta. Sem consenso – A posição de um indicador único, porém, não é consensual. O professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, defendeu ontem que a avaliação do desempenho dos países seja feita por meio da agregação de um novo indicador a outros já existentes, como o IDH e o PIB per capita. Para ele, esse novo mecanismo deve ser capaz de avaliar a sustentabilidade ambiental de países e setores econômicos com base em dados como eficiência energética, uso da água, cobertura vegetal, emissões de gases do efeito estufa, gestão de resíduos etc. “É melhor fazer isso do que jogar fora tudo o que já foi construído”, disse. “O IDH, por exemplo, já é um conceito bem entendido pelos prefeitos.”
Marcovitch, porém, afirmou ter dúvidas de que o desenvolvimento desse novo indicador ocorra no âmbito das Nações Unidas. “A sociedade civil e a academia precisam se unir para responder a esse desafio”, disse.
FONTE: Texto da Folha.com
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